Aula 5 Português

Once you have translated a line of English text, replace the English text with the new translation.
Please do not change the time codes.

Class 5

0:00:01.459,0:00:08.459
(Música de introdução)

0:00:19.289,0:00:24.849
OK, eu pensei que nos poderíamos talvez

0:00:24.849,0:00:31.849
começar esta semana com um resumo
da história que temos até agora

0:00:32.580,0:00:33.880
e com o artigo que vos entreguei.

0:00:33.880,0:00:36.710
Mas, eu só quero passar isto

0:00:36.710,0:00:40.620
porque penso que isto
demonstra a

0:00:40.620,0:00:46.190
maneira interessante como Marx constrói
o seu argumento e diz-nos algo sobre

0:00:46.190,0:00:48.870
a sua forma de pensar.

0:00:48.870,0:00:53.200
Como se lembram (e vão provavelmente
ficar cansados destes estágios iniciais)

0:00:53.200,0:00:56.700
Marx começou com a mercadoria,

0:00:56.700,0:00:59.500
que é um conceito unitário.

0:00:59.500,0:01:01.240
Mas então ele diz

0:01:01.240,0:01:04.930
que existe uma diferenciação
dentro desta unidade.

0:01:04.930,0:01:17.770
E esta diferenciação é sobre
o valor de uso e o valor de troca.

0:01:18.870,0:01:21.220
E então ele argumenta que

0:01:21.220,0:01:25.180
a comensurabilidade de todos
estes tipos diferentes

0:01:25.180,0:01:29.740
de valores de uso
tem de estar localizada algures.

0:01:29.740,0:01:36.990
Assim, ele situa a comensurabilidade
no trabalho,

0:01:36.990,0:01:41.050
e em particular, valor de trabalho,

0:01:41.050,0:01:44.680
valores de trabalho, ou
tempo de trabalho socialmente necessário.

0:01:44.680,0:01:47.750
E obviamente o tempo de trabalho
gasto em algo

0:01:47.750,0:01:51.080
era irrelevante se não for um valor de uso.
Portanto, ele relaciona com os valores de uso.

0:01:51.080,0:01:53.110
Assim, ele fez isso, então

0:01:53.110,0:01:57.830
o próximo passo é fazer
algumas perguntas sobre o trabalho.

0:01:57.830,0:02:02.910
E assim obtemos esta discussão
sobre a diferença entre trabalho concreto

0:02:02.910,0:02:08.619
o fazedor na verdade dos valores de uso,
e o trabalho abstracto.

0:02:08.619,0:02:13.059
Assim o abstracto e o concreto
são então discutidos

0:02:13.059,0:02:16.540
à medida que eles funcionam
em relação um com o outro.

0:02:16.540,0:02:20.999
E claro, estes dois elementos
aparecem juntos

0:02:20.999,0:02:26.509
no momento da troca
quando a forma do valor aparece.

0:02:26.509,0:02:32.279
Assim, obtemos uma forma de valor, que surge.

0:02:32.279,0:02:36.879
E então ele sujeita isto a

0:02:36.879,0:02:40.209
uma interrogação e chega outra vez
a uma diferenciação interna

0:02:40.209,0:02:50.889
entre forma equivalente
e forma relativa de valor,

0:02:50.889,0:02:54.909
que, claro, no final

0:02:54.909,0:03:04.129
produz (ou cristaliza-se)
na forma dinheiro.

0:03:04.129,0:03:07.379
E esta forma dinheiro é

0:03:07.379,0:03:10.319
a representação de valor.
Não é valor em si mesmo.

0:03:10.319,0:03:13.659
É a representação disso.

0:03:13.659,0:03:17.479
Assim, aqui temos a coisa verdadeira
e aqui temos a representação.

0:03:17.479,0:03:20.669
E isto então induz Marx a falar sobre

0:03:20.669,0:03:24.249
o fetichismo que emerge disto,

0:03:24.249,0:03:32.919
assim nós temos relações materiais entre pessoas,

0:03:38.039,0:03:45.769
que contrastam com a relação social,

0:03:45.769,0:03:55.589
dada pelo preços, entre as coisas.

0:03:57.519,0:04:00.029
Isto, claro, traz-nos de volta

0:04:00.029,0:04:04.049
à questão do mercado.
Como funciona o mercado?

0:04:04.049,0:04:09.509
Como o mercado fetichiza -
como o mercado esconde as relações sociais?

0:04:09.509,0:04:16.839
Assim regressamos à questão
do mercado e da troca,

0:04:16.839,0:04:18.930
e olhamos mais concretamente

0:04:18.930,0:04:30.849
outra vez para a bifurcação entre
compradores e vendedores.

0:04:31.639,0:04:35.249
E uma vez mais esta relação é olhada

0:04:35.249,0:04:38.830
e claramente numa troca económica complicada,

0:04:38.830,0:04:43.710
esta relação tem de ser mediada
através do dinheiro.

0:04:43.710,0:04:48.039
Assim, temos a última ligação desta parte.

0:04:48.039,0:04:52.949
Mas então o que Marx faz é dizer,
'Bem, temos também de olhar para o dinheiro, assim se formos

0:04:52.949,0:04:58.360
aqui atrás e dissermos,
'Ok, vamos olhar para a continuação desta cadeia,

0:04:58.360,0:05:01.530
o que dizemos sobre o dinheiro?'
Bem, o dinheiro tem outra vez

0:05:01.530,0:05:05.259
um duplo aspecto aqui.

0:05:05.259,0:05:12.259
O dinheiro é uma medida de valor,

0:05:13.819,0:05:23.139
e é também um meio de circulação.

0:05:26.070,0:05:28.009
Mas então, no fim disto,

0:05:28.009,0:05:32.379
temos Marx dizendo, 'Mas no fim disto,
só existe um tipo de dinheiro

0:05:32.379,0:05:34.800
e isso é o dinheiro do mundo.'

0:05:34.800,0:05:39.330
Portanto, temos de olhar para a forma universal

0:05:39.330,0:05:45.669
do dinheiro, ou dinheiro do mundo.

0:05:45.669,0:05:49.870
E esta forma universal de dinheiro contém,

0:05:49.870,0:06:04.689
novamente, uma relação muito interessante
entre devedores e credores.

0:06:04.689,0:06:09.059
A única forma desta forma universal
de dinheiro poder

0:06:09.059,0:06:13.660
colmatar esta distinção entre
dinheiro enquanto meio de circulação

0:06:13.660,0:06:15.949
e como medida de valor é através

0:06:15.949,0:06:18.319
da criação de um tesouro,

0:06:18.319,0:06:21.259
da existência de empréstimos e…

0:06:21.259,0:06:25.050
Assim, este relacionamento emerge

0:06:25.050,0:06:28.469
e cristaliza-se a partir deste relacionamento

0:06:28.469,0:06:38.209
um processo de circulação do capital.

0:06:40.939,0:06:49.119
Mas este processo de circulação
do capital pressupõe que

0:06:49.119,0:06:56.009
alguém vai conseguir obter mais dinheiro no final
do que aquele com que começou.

0:06:56.009,0:06:59.840
E isto então coloca uma contradição

0:06:59.840,0:07:06.129
entre os equivalentes da troca

0:07:06.129,0:07:13.129
e os não equivalentes

0:07:16.689,0:07:23.689
do lucro ou mais-valia.

0:07:28.099,0:07:31.590
Como é que isto vai ser resolvido?
Vai ser resolvido

0:07:31.590,0:07:34.590
encontrando uma mercadoria no mercado

0:07:34.590,0:07:38.500
que colmate este problema.

0:07:38.500,0:07:44.430
Assim, passamos para
a compra e venda de força de trabalho,

0:07:44.430,0:07:52.710
a mercadoria que pode fazer isso,
força de trabalho.

0:07:52.710,0:07:56.899
A compra e venda da força de trabalho no mercado

0:07:56.899,0:08:01.400
permite aos capitalistas comprar
uma mercadoria que tem a capacidade

0:08:01.400,0:08:05.789
de produzir mais valor
do que tem em si mesmo.

0:08:05.789,0:08:07.849
E, claro, o que isto faz

0:08:07.849,0:08:12.300
é introduzir imediatamente toda

0:08:12.300,0:08:22.559
a relação de classes entre capital e trabalho.

0:08:22.559,0:08:25.599
Este é o método de Marx

0:08:25.599,0:08:30.500
de representação e uma
das coisas mais importantes

0:08:30.500,0:08:37.010
a lembrar acerca disto é:
isto não é uma cadeia causal;

0:08:37.010,0:08:40.440
isto é uma expansão de um argumento,

0:08:40.440,0:08:44.800
começando com o conceito unitário de mercadoria,
movendo-se e expandindo-se passo a passo.

0:08:44.800,0:08:49.030
E o seu objectivo é, obviamente,

0:08:49.030,0:08:53.980
mostrar-nos a natureza

0:08:53.980,0:08:57.650
do modo de produção capitalista.

0:08:57.650,0:08:59.090
Assim, cada um destes

0:08:59.090,0:09:02.770
passos leva-vos um pouco mais para o interior

0:09:02.770,0:09:07.190
no sentido de perceberem como funciona o capitalismo.

0:09:07.190,0:09:11.480
Mas vocês podem ver que isto continua,
por outras palavras, que não termina aqui.

0:09:11.480,0:09:13.120
Temos a luta de classes,

0:09:13.120,0:09:16.670
temos esta enorme bifurcação a aparecer,

0:09:16.670,0:09:22.900
muito do capital entre
a mais-valia absoluta e relativa.

0:09:22.900,0:09:29.460
E então começamos a transformar isto
numa dinâmica.

0:09:29.460,0:09:34.310
Portanto, isto é, se quiserem,
a forma pela qual Marx está a contar a história

0:09:34.310,0:09:39.260
ou contar a sua história sobre
o modo como entender o capitalismo.

0:09:39.260,0:09:45.290
E, tal como disse, isto é
um argumento em expansão

0:09:45.290,0:09:49.280
através de séries de
diferenciações internas

0:09:49.280,0:09:50.580
- novo problema -

0:09:50.580,0:09:53.060
- mais diferenciações internas.

0:09:53.060,0:09:58.420
E portanto o argumento cresce organicamente.

0:09:58.420,0:10:03.940
Não é uma espécie de construção de bloco sobre bloco,
ou de bocado causal em bocado causal.

0:10:03.940,0:10:15.070
Cresce, e eu penso que é muito
interessante a forma como isto cresce.

0:10:15.070,0:10:19.950
A primeira vez que descobri
que o estava aqui a acontecer, pareceu-me

0:10:19.950,0:10:25.250
muito convincente. Depois de um tempo
torna-se muito útil expandir-se desta forma.

0:10:25.250,0:10:28.890
E é uma método muito distintivo

0:10:28.890,0:10:34.990
que reflecte parcialmente
a sua investigação, mas não completamente.

0:10:34.990,0:10:38.150
Reflecte parcialmente

0:10:38.150,0:10:40.150
o assunto,

0:10:40.150,0:10:44.090
mas é principalmente
uma técnica de representação.

0:10:44.090,0:10:47.030
É uma maneira de se comunicar

0:10:47.030,0:10:49.680
com uma audiência
de modo a permitir a compreensão

0:10:49.680,0:10:53.220
do modo de produção capitalista.

0:10:53.220,0:10:56.600
Portanto, vocês não entram
numa linguagem de causalidade que diz:

0:10:56.600,0:11:00.040
'Isto é causado por isto
e isto é causado por aquilo.

0:11:00.040,0:11:01.969
Vocês começam a compreendê-lo

0:11:01.969,0:11:04.800
como uma totalidade, como uma unidade.

0:11:04.800,0:11:08.350
E como ele diz sobre isto
em vários outros lugares:

0:11:08.350,0:11:10.220
Temos de compreender isto

0:11:10.220,0:11:15.080
como um sistema orgânico.

0:11:15.080,0:11:18.200
E compreender isto organicamente requer

0:11:18.200,0:11:21.620
que investiguemos

0:11:21.620,0:11:23.790
e representemos isto

0:11:23.790,0:11:26.440
nesta forma particular.

0:11:26.440,0:11:32.600
Estes são os passos
pelos quais ele passou

0:11:32.600,0:11:37.940
nesta primeira parte do Capital

0:11:37.940,0:11:41.280
onde ele olha principalmente
para o processo de troca.

0:11:41.280,0:11:44.640
Mas como sabemos,
vamos deixar

0:11:44.640,0:11:49.380
esta esfera barulhenta
onde tudo é mais ou menos óbvio.

0:11:49.380,0:11:51.770
Vamos deixar este mundo

0:11:51.770,0:11:55.970
de igualdade, propriedade, Bentham
e tudo o resto.

0:11:55.970,0:12:00.460
E vamos para dentro
do processo de produção,

0:12:00.460,0:12:04.350
e olhar para o que acontece dentro da produção.

0:12:04.350,0:12:07.810
Uma vez mais, encontrarão Marx a fazer

0:12:07.810,0:12:11.210
algo um pouco fora de comum

0:12:11.210,0:12:16.810
neste capítulo sobre o processo de trabalho.

0:12:16.810,0:12:20.230
Quase invariavelmente

0:12:20.230,0:12:24.880
nos capítulos anteriores
ele falou sobre as categorias dizendo:

0:12:24.880,0:12:28.210
'Estas são categorias distintamente burguesas'.

0:12:28.210,0:12:32.820
Valor trabalho, por exemplo,
é uma categorias burguesa.

0:12:32.820,0:12:35.600
Não é uma categoria universal.

0:12:35.600,0:12:40.110
Aristóteles não poderia vê-la
porque no mundo do trabalho escravo

0:12:40.110,0:12:44.340
a teoria do valor-trabalho
não poderia funcionar.

0:12:44.340,0:12:46.550
Por isso ele não poderia vê-la.

0:12:46.550,0:12:48.700
Assim, a teoria do valor-trabalho é

0:12:48.700,0:12:55.700
um aparelho conceptual que emerge
das práticas da era burguesa.

0:12:57.100,0:12:59.870
E novamente, ele enfatiza

0:12:59.870,0:13:05.490
que as categorías da economia política
são categorias geradas a partir

0:13:05.490,0:13:10.520
de práticas burguesas.
Não são categorias universais,

0:13:10.520,0:13:14.020
e não deveriam ser tratadas
como categorias universais

0:13:14.020,0:13:18.110
comuns a todos os modos de produção.

0:13:18.110,0:13:23.130
Mas aqui vamos fazer uma
singular e muito importante

0:13:23.130,0:13:26.010
excepção a este argumento.

0:13:26.010,0:13:35.340
E isto foi anunciado previamente no Capital.

0:13:35.340,0:13:45.130
Voltando à página 133, ele diz:

0:13:45.130,0:13:48.639
"O trabalho…" dois terços da página "…como

0:13:48.639,0:13:53.180
criador de valores de uso, como trabalho útil,

0:13:53.180,0:13:58.760
é uma condição de existência do homem,
independente de todas as formas de sociedade,

0:13:58.760,0:14:05.330
eterna necessidade natural de mediação
do metabolismo entre homem e natureza

0:14:05.330,0:14:11.020
e, portanto, da vida humana."

0:14:11.020,0:14:16.100
Então ele vai um pouco mais longe e diz: "Ao produzir,
o homem só pode proceder como a própria natureza,

0:14:16.100,0:14:21.570
isto é, apenas mudando as formas das matérias."

0:14:21.570,0:14:24.480
E semelhante.

0:14:24.480,0:14:28.810
O que ele está a fazer neste capítulo
sobre o processo de trabalho

0:14:28.810,0:14:31.060
nas cerca das primeiras dez páginas

0:14:31.060,0:14:39.990
é falar sobre esta
condição universal de existência.

0:14:39.990,0:14:42.800
Temos de ser muito cuidadosos

0:14:42.800,0:14:48.800
ao ler isto, não ler através
de categorias burguesas.

0:14:50.260,0:14:53.750
As categorias burguesas

0:14:53.750,0:14:57.030
efectivamente separam:

0:14:57.030,0:15:00.240
historicamente havia homem e natureza.

0:15:00.240,0:15:07.240
Natureza e sociedade, natureza e cultura,
natural e artificial.

0:15:07.620,0:15:13.120
Mas isso é uma concepção burguesa.

0:15:13.120,0:15:16.310
E Marx está a criar o seu argumento
sobre o processo de trabalho …

0:15:16.310,0:15:22.700
ele está a fazer a mesma coisa que fez
com a mercadoria. Ele está a tratar isto como uma unidade.

0:15:22.700,0:15:25.940
E então a primeira questão
que vocês têm de fazer a vocês próprios é:

0:15:25.940,0:15:32.060
O processo de trabalho é natural ou social?

0:15:32.060,0:15:36.810
A resposta de Marx é: 'O processo de trabalho
é o processo de trabalho.'

0:15:36.810,0:15:44.350
É ambos, simultaneamente.

0:15:44.350,0:15:48.900
Asim, temos de começar a partir
da proposição de uma unidade.

0:15:48.900,0:15:54.860
Esse momento metabólico
que está sempre lá,

0:15:54.860,0:15:59.120
está onde o processo de trabalho opera.

0:15:59.120,0:16:02.440
E é uma necessidade naturalmente imposta.

0:16:02.440,0:16:04.860
Não podemos fugir dela.

0:16:04.860,0:16:09.410
Nós alteramos coisas à nossa volta
para podermos viver.

0:16:09.410,0:16:15.140
Ao fazermos isso, desenvolvemos
todo o tipo de formas e aspectos sociais.

0:16:15.140,0:16:18.650
Mas para Marx, em primeira instância

0:16:18.650,0:16:24.190
temos de pensar nisso
desta maneira unitária.

0:16:24.190,0:16:26.080
Assim, ele diz:

0:16:26.080,0:16:31.080
"Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza,
um processo em que o homem, por sua própria acção,

0:16:31.080,0:16:35.280
media, regula e controla

0:16:35.280,0:16:37.540
seu metabolismo com a Natureza."

0:16:37.540,0:16:39.470
E como disse no parágrafo anterior:

0:16:39.470,0:16:43.020
"Por isso, o processo de trabalho deve ser considerado de início.

0:16:43.020,0:16:46.000
independentemente de qualquer forma social determinada.

0:16:46.000,0:16:51.570
independentemente do modo como evolua
no capitalismo."

0:16:51.570,0:16:55.500
Então ele descreve
em termos muito gerais

0:16:55.500,0:17:01.030
como ele interpreta este processo de trabalho.

0:17:01.030,0:17:07.150
"Ele mesmo se defronta com
a matéria natural como uma força natural.

0:17:07.150,0:17:11.540
Ele põe em movimento as forças naturais
pertencentes a sua corporalidade,

0:17:11.540,0:17:16.120
braços e pernas, cabeça e mão,
a fim de apropriar-se da matéria natural

0:17:16.120,0:17:18.800
numa forma útil para sua própria vida.

0:17:18.800,0:17:23.230
Ao atuar, por meio desse movimento,
sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la,

0:17:23.230,0:17:29.250
ele modifica, ao mesmo tempo,
sua própria natureza."

0:17:29.250,0:17:34.120
Uma proposição muito dialéctica que diz:

0:17:34.120,0:17:39.290
Vocês não se podem transformar
sem mudarem o mundo à vossa volta.

0:17:39.290,0:17:45.780
E vocês não podem mudar o mundo à vossa volta
sem simultaneamente se transformarem.

0:17:45.780,0:17:48.490
Por outras palavras: O aspecto unitário disto,

0:17:48.490,0:17:51.850
mesmo que haja uma oposição a emergir

0:17:51.850,0:17:55.090
como com o valor de uso e o valor de troca,

0:17:55.090,0:18:03.100
o aspecto unitário disto nunca pode ser substituído.

0:18:03.100,0:18:10.650
E esta dialéctica de se mudar a si próprio
através de alterar o mundo

0:18:10.650,0:18:17.480
e vice-versa, esta dialéctica
é fundamental para a forma como Marx vê

0:18:17.480,0:18:23.090
a evolução da sociedade humana através

0:18:23.090,0:18:27.240
das transformações da natureza.

0:18:27.240,0:18:30.140
Isto levar-me-ia a fazer afirmações

0:18:30.140,0:18:32.500
muito fortes do tipo:

0:18:32.500,0:18:36.059
Todo o projecto ecológico é sempre
um projecto social.

0:18:36.059,0:18:39.020
E todos os projectos sociais
são projectos ecológicos.

0:18:39.020,0:18:46.480
Vocês não podem vê-los como se estivessem
de alguma forma separados um do outro.

0:18:46.480,0:18:51.170
Um dos grandes problemas
que surgiu na era burguesa

0:18:51.170,0:18:55.300
tem sido precisamente o modo pelo qual

0:18:55.300,0:19:01.840
conceptualmente e também através
das práticas das instituições sociais

0:19:01.840,0:19:04.200
temos visto cada vez mais

0:19:04.200,0:19:08.780
a natureza como algo que está lá
e a sociedade como algo que está aqui.

0:19:08.780,0:19:12.990
Em seguida, embarcamos em toda uma série de coisas loucas
e tentamos desenhar setas causais de uma coisa para a outra.

0:19:12.990,0:19:16.799
A natureza leva os seres humanos a fazer isto?

0:19:16.799,0:19:21.160
Os seres humanos levam a natureza a fazer aquilo?

0:19:21.160,0:19:25.460
Mais uma vez, Marx quer abordar
isto de uma maneira unitária,

0:19:25.460,0:19:28.470
uma maneira orgânica, tentando dizer:

0:19:28.470,0:19:33.730
'Reparem, este mundo do processo de trabalho

0:19:33.730,0:19:39.290
é totalmente natural e
totalmente social ao mesmo tempo.'

0:19:39.290,0:19:42.740
E é transformador, e na medida
em que é transformador

0:19:42.740,0:19:46.720
é transformador do eu
e da sociedade,

0:19:46.720,0:19:57.200
e transformador desse outro mundo
ao qual chamamos natureza.

0:19:58.250,0:20:02.820
"Ao actuar, por meio desse movimento,…", continua ele dizendo
"… sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la,

0:20:02.820,0:20:06.820
ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza.

0:20:06.820,0:20:11.740
Ele desenvolve as potências nela adormecidas…"

0:20:11.740,0:20:15.980
Isto é Marx a falar sobre a forma
pela qual nós realmente produzimos natureza.

0:20:15.980,0:20:19.930
Nós fazemos uma nova natureza
através daquilo que fazemos.

0:20:19.930,0:20:24.650
As coisas acontecem lá em virtude
do que fazemos, da mesma maneira

0:20:24.650,0:20:30.170
as coisas acontecem lá em virtude
do que os castores fazem, e as formigas fazem,

0:20:30.170,0:20:36.130
e todo o tipo de organismos fazem.

0:20:36.130,0:20:41.120
"Ele desenvolve as potências nela adormecidas

0:20:41.120,0:20:45.279
e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domínio."

0:20:45.279,0:20:48.980
Soa um pouco a Prometeu.

0:20:48.980,0:20:51.650
Nós poderíamos dominá-la.

0:20:51.650,0:20:55.260
Mas poder soberano, penso que significa aqui

0:20:55.260,0:20:59.260
que nós podemos tomar decisões sobre isto.

0:20:59.260,0:21:03.190
Nós decidimos fazer isto e não fazer isto,

0:21:03.190,0:21:09.690
e como decidimos tem um significado crucial.

0:21:09.690,0:21:15.100
Nós todos decidimos conduzir SUVs
e sabemos o que acontece

0:21:15.100,0:21:20.559
ao teor de dióxido de carbono na atmosfera…
sabemos todas essas coisas.

0:21:20.559,0:21:25.620
Mas ainda assim decidimos conduzir SUVs.

0:21:25.620,0:21:29.970
Se decidíssemos não conduzir SUV's
então talvez tivéssemos um resultado diferente.

0:21:29.970,0:21:34.570
Portanto, aqui temos o que Marx
está a falar, dizendo:

0:21:34.570,0:21:41.570
'Existe um momento soberano'
e já voltaremos a isto num segundo.

0:21:42.050,0:21:46.770
"Pressupomos o trabalho…"
diz ele, "numa forma

0:21:46.770,0:21:53.110
em que pertence exclusivamente ao homem."

0:21:53.110,0:21:57.520
Nos seus escritos anteriores,
Marx frequentemente recorreu

0:21:57.520,0:22:04.490
a uma ideia chamada 'ser genérico'
(Gattungswesen), que era sobre

0:22:04.490,0:22:07.090
o que nós somos enquanto espécie.

0:22:07.090,0:22:10.080
O que podemos dizer sobre isso?

0:22:10.080,0:22:13.070
Quase de certeza que ele foi buscar esta ideia a Kant

0:22:13.070,0:22:21.340
que também escreveu longamente
sobre o conceito de ser genérico na sua antropologia.

0:22:21.340,0:22:28.620
E claro, também estava na
antropologia de Feuerbach.

0:22:28.620,0:22:31.340
Portanto, a questão é:

0:22:31.340,0:22:36.490
Somos diferentes enquanto espécie das outras espécies,
e se sim, em que medida? Nós sabemos que as formigas são diferentes

0:22:36.490,0:22:40.060
dos castores e abelhas e de tudo o resto.

0:22:40.060,0:22:42.920
Assim, o que ele faz é isto, diz ele:

0:22:42.920,0:22:47.039
'Bem, temos de reconhecer que todas as espécies

0:22:47.039,0:22:49.400
estão envolvidas neste processo

0:22:49.400,0:22:52.130
de produção da natureza'
- se lhe quiserem assim chamar,

0:22:52.130,0:22:55.670
produção, actividades transformadoras
no seu ambiente.

0:22:55.670,0:23:00.060
Mas, diz ele: "…Mas o que distingue, de antemão,
o pior arquitecto da melhor abelha é que

0:23:00.060,0:23:05.279
ele construiu o favo em sua cabeça,
antes de construí-lo em cera.

0:23:05.279,0:23:09.120
No fim do processo de trabalho
obtém-se um resultado

0:23:09.120,0:23:13.970
que já no início deste existiu
na imaginação do trabalhador,

0:23:13.970,0:23:18.780
e portanto idealmente."
Isto é, mentalmente.

0:23:18.780,0:23:23.590
"Ele não apenas efetua uma transformação
da forma da matéria natural;

0:23:23.590,0:23:39.170
realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo"
O trabalho humano tem, antes do seu envolvimento,

0:23:39.170,0:23:47.540
um certo nível de cálculo mental
e pensamento intencional.

0:23:47.540,0:23:52.570
Aqui, uma vez mais, parece ir contra algumas
de outras citações que vocês, sem dúvida, ouviram sobre

0:23:52.570,0:23:54.860
Marx, que dizem coisas do tipo:

0:23:54.860,0:23:59.630
'A consciência surge da actividade material.'

0:23:59.630,0:24:02.160
Mas aqui ele está a dizer:

0:24:02.160,0:24:13.080
A ideia precede o acto,
o propósito precede o acto.

0:24:13.080,0:24:17.160
Novamente, não é difícil
reconciliar estas duas posições

0:24:17.160,0:24:24.160
se vocês estiverem preparados
para pensar dialécticamente em vez de forma causal.

0:24:24.590,0:24:29.320
Um arquitecto não começa do nada,

0:24:29.320,0:24:34.960
um arquitecto começa de uma situação particular.
de uma história particular,

0:24:34.960,0:24:41.090
de um processo de aprendizagem particular,
de um particular mundo material.

0:24:41.090,0:24:45.340
Assim, a imaginação do arquitecto
é exercida para suportar

0:24:45.340,0:24:47.880
uma situação particular

0:24:47.880,0:24:52.690
baseada na riqueza
de experiência que resultou

0:24:52.690,0:24:56.880
de uma vida de actividade,

0:24:56.880,0:25:02.220
e uma vida inteira de aprendizagem
e de tudo o resto.

0:25:02.220,0:25:05.900
Portanto, não é como se o arquitecto
começasse a partir do nada,

0:25:05.900,0:25:13.660
os arquitectos começam -
mas existe este momento mental

0:25:13.660,0:25:18.679
que é de importância capital
para o processo de trabalho.

0:25:18.679,0:25:22.520
O momento da concepção, design;

0:25:22.520,0:25:29.270
e vamos ver este momento
frequentemente referido no que se segue.

0:25:29.270,0:25:33.530
Mas este momento não significa nada
a não ser que seja traduzido

0:25:33.530,0:25:35.780
em algo no terreno.

0:25:35.780,0:25:39.809
Há por aí imensos arquitectos
que sonham com todo o tipo de coisas fantásticas,

0:25:39.809,0:25:45.140
mas Marx diz: 'Bem, isto é irrelevante
até que seja concretizado'.

0:25:45.140,0:25:48.169
E é a concretização disto,

0:25:48.169,0:25:55.169
onde se vai deste fundo materialista
através do momento mental para

0:25:55.370,0:26:04.430
o processo de trabalho no terreno
que é crucial para se perceber a forma com trabalhamos.

0:26:04.430,0:26:08.740
Ele então dá um passo em frente.

0:26:08.740,0:26:11.980
"…isto é um objectivo", diz ele
"que ele sabe

0:26:11.980,0:26:15.700
que determina, como lei,

0:26:15.700,0:26:20.679
a espécie e o modo de sua actividade
e ao qual tem de subordinar sua vontade.

0:26:20.679,0:26:26.130
E essa subordinação não é um ato isolado.

0:26:26.130,0:26:30.929
Além do esforço dos órgãos que trabalham,
́exigida a vontade orientada a um fim,

0:26:30.929,0:26:34.240
que se manifesta como atenção
durante todo o tempo de trabalho,

0:26:34.240,0:26:38.410
e isso tanto mais quanto menos esse trabalho,
pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução,

0:26:38.410,0:26:43.910
atrai o trabalhador, portanto,
quanto menos ele o aproveita,

0:26:43.910,0:26:48.580
como jogo de suas próprias forças físicas e espirituais."

0:26:48.580,0:27:06.760
O que ele está aqui a atacar é a visão de trabalho de Fourier
como uma brincadeira, puro jogo.

0:27:06.800,0:27:11.350
Marx está a dizer algo do género:
'Nunca é puro jogo'.

0:27:11.350,0:27:13.960
Quando entramos num projecto

0:27:13.960,0:27:18.100
descobrimos passado um pouco
que o projecto nos começa a controlar.

0:27:18.100,0:27:20.300
Nós temos de completar o projecto.

0:27:20.300,0:27:25.669
Nós temos de subordinar a nossa vontade a ele.

0:27:25.669,0:27:31.890
E, por vezes, isso pode ser
um processo muito aborrecido.

0:27:31.890,0:27:36.730
Para aqueles de vocês que terão de redigir
uma tese, irão ver muito bem

0:27:36.730,0:27:39.890
do que é que eu estou a falar.

0:27:39.890,0:27:46.890
A lei geral de isto é, dez por cento de inspiração
e noventa por cento de transpiração.

0:27:47.019,0:27:52.270
E vocês sabem, só têm de ver alguém
a chegar ao fim da tese gemendo como um louco,

0:27:52.270,0:27:55.690
e a dizer: 'Isto está a mandar-me completamente para baixo'

0:27:55.690,0:27:58.080
Isso ainda acontece comigo quando escrevo um livro.

0:27:58.080,0:28:01.200
Eu começo com "Grande ideia!!'

0:28:01.200,0:28:05.150
Seis meses mais tarde - 'Bem, a ideia não é má'.

0:28:05.150,0:28:09.690
Por volta do fim - 'Que ideia estúpida isto foi!'
Por que não consigo sair dela. Não vai acabar.'

0:28:09.690,0:28:11.960
E todo este tipo de coisas.

0:28:11.960,0:28:15.929
Marx é, se quiserem, um pouco sisudo para desfrutar

0:28:15.929,0:28:20.460
a concepção de Fourier,
que de todo o trabalho dever ser mero jogo.

0:28:20.460,0:28:25.900
Não só não acha que é,
como nem sequer acha que deveria ser.

0:28:25.900,0:28:32.860
Temos de aceitar que há uma certa disciplina
que está presente nisto, uma auto-disciplina.

0:28:32.860,0:28:37.550
E não podemos fugir dela.

0:28:37.550,0:28:44.860
Ao mesmo tempo,
Eu penso que esta passagem é muito

0:28:44.860,0:28:48.800
importante em termos do seu tom.

0:28:48.800,0:28:52.690
Há algo muito positivo sobre isto.

0:28:52.690,0:28:57.660
Há mesmo algo de romântico sobre isto.
Marx não é avesso a ser

0:28:57.660,0:29:04.650
romântico na ocasião, que há algo
de nobre sobre este empreendimento.

0:29:04.650,0:29:08.340
Podemos sonhar pensamentos,
podemos torná-los reais,

0:29:08.340,0:29:12.070
podemos transformar o mundo,
podemo-nos transformar a nós mesmos,

0:29:12.070,0:29:18.310
temos essa capacidade enquanto espécie,
temos esses poderes enquanto espécie.

0:29:18.310,0:29:25.150
No que diz respeito a Marx,
não se sintam culpados por usá-los.

0:29:25.150,0:29:31.350
Porém, o que sentem é, uma vez iniciado o processo,
é melhor ficar com ele, porque

0:29:31.350,0:29:35.440
não podemos começar um projecto
e depois deixá-lo.

0:29:35.440,0:29:42.030
Vai ser necessário disciplina para realizá-lo.

0:29:42.030,0:29:47.610
Portanto, isto é, se quiserem,
um tipo estrutural de argumento.

0:29:47.610,0:29:51.760
Mas, uma vez mais, reparem que é um argumento unitário.

0:29:51.760,0:29:55.740
Não há nada de especificamente
não natural sobre isto.

0:29:55.740,0:30:01.050
Marx não pensa que estejamos a ser não-naturais,
porque nós fazemos isto

0:30:01.050,0:30:04.019
do mesmo modo que as abelhas
estão a ser não-naturais quando constroem colmeias,

0:30:04.019,0:30:09.990
e as aranhas teias, as formigas formigueiros,
os castores represas, e tudo o resto.

0:30:09.990,0:30:13.690
Não há nada de não-natural e tudo isto.

0:30:13.690,0:30:17.750
É simultaneamente natural e social.

0:30:17.750,0:30:28.460
Mas é algo que é muito mais
unitário dentro da nossa espécie.

0:30:28.520,0:30:35.840
Marx não vai falar muito no Capital
sobre a relação com a natureza.

0:30:35.840,0:30:40.870
E como evolui na era burguesa.

0:30:40.870,0:30:45.280
Mas, na verdade, se vocês se preocupam

0:30:45.280,0:30:51.240
com fazer inferências por vocês próprios,
descobrirão que ele está a dizer muito sobre isto.

0:30:51.240,0:30:56.690
Exactamente da mesma forma que
neste mundo o valor de uso e o valor de troca

0:30:56.690,0:31:01.410
internos na mercadoria produzem uma antinomia,

0:31:01.410,0:31:06.670
um antagonismo, e então na altura em que
vocês chegam à forma dinheiro, produz-se

0:31:06.670,0:31:12.059
a possibilidade de graves contradições reais.

0:31:12.059,0:31:18.110
Por isso vocês podem ver a relação
com a natureza a evoluir da mesma forma.

0:31:18.110,0:31:23.330
Chega-se a um ponto onde pode haver
realmente crises ambientais.

0:31:23.330,0:31:27.410
E Marx no Capital, num par de pontos,
irá apontar para

0:31:27.410,0:31:32.290
a possibilidade dessas crises.

0:31:32.290,0:31:34.630
Mas, o que vamos ver é

0:31:34.630,0:31:40.960
uma evolução do processo de trabalho
no capitalismo,

0:31:40.960,0:31:44.740
que vai levá-lo para
um sentido muito específico

0:31:44.740,0:31:50.140
no qual, de facto,
esta separação conceptual da natureza

0:31:50.140,0:31:56.310
da sociedade vai tornar-se
muito significativa,

0:31:56.310,0:31:59.889
e vai tornar-se antagonista.

0:31:59.889,0:32:07.680
E que as nossas práticas
vão torna-se assim.

0:32:07.680,0:32:11.460
Portanto, quando estivermos a ler sobre
a evolução do processo de trabalho,

0:32:11.460,0:32:17.660
devemos querer ter isso em mente.

0:32:17.660,0:32:24.770
O que Marx então faz é dar uma espécie
de comentários gerais sobre

0:32:24.770,0:32:29.620
o modo como este processo de trabalho funciona.

0:32:29.620,0:32:32.259
E ele faz uma espécie de análise

0:32:32.259,0:32:35.870
desta "actividade orientada a um fim
ou o trabalho mesmo,

0:32:35.870,0:32:39.360
seu objeto e seus meios"

0:32:39.360,0:32:43.260
de onde vem este material universal
para o trabalho humano.

0:32:43.260,0:32:46.700
E dá alguns exemplos sobre isto;
matérias-primas,

0:32:46.700,0:32:49.470
materiais retirados da natureza,,
e tudo o resto.

0:32:49.470,0:32:54.580
A seguir fala sobre
os instrumentos de trabalho

0:32:54.580,0:32:58.750
que inicialmente também
são apropriações da natureza,

0:32:58.750,0:33:02.310
mas que, por sua vez,
como ele diz na página 285:

0:33:02.310,0:33:07.149
"…natural torna-se órgão de sua actividade,
um órgão que ele acrescenta a seus próprios órgãos corporais,

0:33:07.149,0:33:10.700
prolongando sua figura natural, apesar da Bíblia.

0:33:10.700,0:33:13.179
Do mesmo modo como a terra é sua despensa original,

0:33:13.179,0:33:16.580
é ela seu arsenal original de meios de trabalho."

0:33:16.580,0:33:28.840
Pegamos nas coisas e usámo-las como ferramentas.
O que nos leva então à ideia de que

0:33:28.840,0:33:32.660
temos uma história da fabricação de instrumentos.

0:33:32.660,0:33:37.100
Ele cita Franklin na página 286,

0:33:37.100,0:33:42.300
e obviamente atribui uma grande importância a isto,
e nós voltaremos a isto quando ele diz:

0:33:42.300,0:33:47.640
"Não é o que se faz, mas como,
com que meios de trabalho se faz,

0:33:47.640,0:33:51.120
é o que distingue as épocas económicas.

0:33:51.120,0:33:56.050
Os meios de trabalho não são só medidores
do grau de desenvolvimento da força de trabalho humana,

0:33:56.050,0:34:05.150
mas também indicadores
das condições sociais nas quais se trabalha."

0:34:05.150,0:34:11.129
Novamente, vai ser uma relação apertada,
possivelmente antagonista

0:34:11.129,0:34:17.609
entre tecnologias e relações sociais.
O que Marx está aqui a fazer é a estabelecer

0:34:17.609,0:34:22.609
outra vez esta universalidade da história humana,
que é uma complicada relação entre

0:34:22.609,0:34:29.559
mudanças tecnológicas e relações sociais.

0:34:29.559,0:34:32.259
Mas não estamos a lidar apenas
com ferramentas, tal como diz…

0:34:32.259,0:34:38.499
…final da página…
estamos também a lidar com todas as infra-estruturas,

0:34:38.499,0:34:42.629
muitas das quais foram criadas
através do trabalho passado.

0:34:42.629,0:34:46.569
…p.287: "Meios de trabalho desse tipo,
já mediados pelo trabalho,

0:34:46.569,0:34:55.830
são por exemplo
edifícios de trabalho, canais, estradas etc."

0:34:57.159,0:35:03.930
E a seguir vem um parágrafo-chave:
"No processo de trabalho a atividade do homem efectua,

0:35:03.930,0:35:10.239
portanto, mediante o meio de trabalho,
uma transformação do objecto de trabalho,

0:35:10.239,0:35:15.679
pretendida desde o princípio.
O processo extingue-se no produto."

0:35:15.679,0:35:19.899
Nós falamos várias vezes
sobre a forma como Marx

0:35:19.899,0:35:25.419
está frequentemente a voltar
às relações entre processos e coisas,

0:35:25.419,0:35:28.249
processos, objectos.

0:35:28.249,0:35:32.879
"Seu produto é um valor de uso;
uma matéria natural adaptada às necessidades humanas

0:35:32.879,0:35:37.029
mediante transformação da forma.

0:35:37.029,0:35:40.729
O trabalho se uniu com seu objectivo.

0:35:40.729,0:35:43.509
O trabalho está objectivado

0:35:43.509,0:35:46.060
e o objeto trabalhado.

0:35:46.060,0:35:49.479
O que do lado do trabalhador
aparecia na forma de mobilidade…"

0:35:49.479,0:35:52.329
isto é actividade "… aparece agora
como propriedade imóvel

0:35:52.329,0:35:57.630
na forma do ser,
do lado do produto.

0:35:57.630,0:36:03.829
Ele fiou e o produto é um fio."

0:36:03.829,0:36:09.199
Este processo-coisa…

0:36:09.199,0:36:12.889
O que é importante,
o processo ou a coisa?

0:36:12.889,0:36:19.640
Novamente, vocês têm de pensar sobre o dois.
Mas para Marx o processo de trabalho

0:36:19.640,0:36:23.139
é no que ele se quer concentrar,

0:36:23.139,0:36:30.499
reconhecendo claro que
o valor está objectivado na coisa.

0:36:30.499,0:36:40.069
Objectificação é um aspecto
inevitável deste processo.

0:36:40.069,0:36:44.539
"Considerando-se o processo inteiro", diz então,
"do ponto de vista de seu resultado,

0:36:44.539,0:36:47.759
do produto, aparecem ambos,
meio e objeto de trabalho,

0:36:47.759,0:36:55.179
como meios de produção,
e o trabalho mesmo como trabalho produtivo."

0:36:55.179,0:37:01.819
Assim, temos então esta simples distinção.

0:37:01.819,0:37:07.959
Temos então o problema de,
como podemos entender o trabalho passado,

0:37:07.959,0:37:14.290
porque qualquer objecto que vemos,
todo o trabalho incorporado nele

0:37:14.290,0:37:19.079
é passado assim que o levo para o mercado.

0:37:19.079,0:37:23.459
Mas até que ponto o passado é passado?

0:37:23.459,0:37:28.669
Temos de lidar com o facto
que o trabalho passado está frequentemente envolvido,

0:37:28.669,0:37:33.680
incorporado nos meios de produção,
que então incorporamos na fase seguinte

0:37:33.680,0:37:42.709
do processo de trabalho, que é então
envolvido na fase seguinte do processo de trabalho…

0:37:42.709,0:37:50.429
Então isto leva-o a algumas reflexões sobre:

0:37:50.429,0:37:54.469
como é que vamos pensar sobre o trabalho passado?

0:37:54.469,0:37:57.559
Uma vez que todo o trabalho é passado,

0:37:57.559,0:38:00.009
assim que o objecto é produzido,

0:38:00.009,0:38:09.079
como é que vamos pensar
sobre a cadeia de trabalhos anteriores?

0:38:10.199,0:38:13.939
Especialmente quando alguns destes trabalhos anteriores

0:38:13.939,0:38:17.929
desaparecem no processo de produção.

0:38:17.929,0:38:22.039
O trabalho passado envolvido
na mineração do carvão,

0:38:22.039,0:38:27.929
que eu depois uso como
fonte de energia para fazer o aço.

0:38:27.929,0:38:33.649
O carvão, simplesmente, desaparece;
não está no aço; simplesmente desapareceu.

0:38:33.649,0:38:41.459
Mas é ainda trabalho passado,
que está lá em termos da sua história,

0:38:41.459,0:38:44.930
mas não está lá materialmente.

0:38:44.930,0:38:53.400
Isso vai colocar alguns problemas contáveis
muito interessantes à medida que avançamos.

0:38:57.849,0:39:01.270
E isto claro leva-o para o tema:

0:39:01.270,0:39:04.429
há uma série de metamorfoses
que ocorrem

0:39:04.429,0:39:07.439
dentro das etapas do processo de trabalho.

0:39:07.439,0:39:12.799
E a cada etapa algo de novo é acrescentado,
algo de novo acontece.

0:39:12.799,0:39:17.630
Assim, temos de pensar nisto como uma cadeia.
Falaremos frequentemente de cadeias de mercadorias,

0:39:17.630,0:39:24.630
e coisas deste género,
que vão pegar nesta ideia.

0:39:30.039,0:39:37.479
Então, na página 290 ele introduz
uma distinção muito importante:

0:39:37.479,0:39:42.410
"O trabalho gasta seus elementos materiais,

0:39:42.410,0:39:50.759
seu objeto e seu meio, os devora e é,
portanto, processo de consumo.

0:39:50.759,0:39:52.999
Esse consumo produtivo…",

0:39:52.999,0:39:55.569
reparem na terminologia: "consumo produtivo",

0:39:55.569,0:40:00.650
"… distingue-se do consumo individual
por consumir o último os produtos

0:40:00.650,0:40:05.390
como meios de subsistência do indivíduo vivo,

0:40:05.390,0:40:09.390
o primeiro, porém, como meios de subsistência do trabalho,

0:40:09.390,0:40:12.979
da força de trabalho ativa do indivíduo.

0:40:12.979,0:40:19.079
O produto de consumo individual é, por isso,
o próprio consumidor,

0:40:19.079,0:40:26.079
o resultado do consumo produtivo
um produto distinto do consumidor."

0:40:26.769,0:40:30.359
Esta distinção entre o consumo individual
e o consumo produtivo -

0:40:30.359,0:40:33.069
um valor de uso que vai desaparecer.

0:40:33.069,0:40:36.459
Para onde desaparece? Para onde vai?
No consumo produtivo

0:40:36.459,0:40:40.690
continua a estar presente
de uma forma ou doutra

0:40:40.690,00:40:47.409
no processo de produção,
tanto materialmente como em termos de

0:40:47.409,0:40:52.339
trabalho passado incorporado…

0:40:52.339,0:40:59.339
… sendo continuamente presente.

0:40:59.869,0:41:03.859
No final da página 290
temos uma súmula:

0:41:03.859,0:41:07.529
"O processo de trabalho,

0:41:07.529,0:41:11.619
… é atividade orientada a um fim
para produzir valores de uso,

0:41:11.619,0:41:15.170
apropriação do natural para satisfazer
as necessidades humanas,

0:41:15.170,0:41:21.659
condição universal do metabolismo
entre o homem e a Natureza,

0:41:21.659,0:41:25.749
condição natural eterna da vida humana…"

0:41:25.749,0:41:27.779
repetindo o que disse anteriormente

0:41:27.779,0:41:32.049
"… e, portanto, independente de qualquer forma dessa vida,
sendo antes igualmente comum

0:41:32.049,0:41:36.749
a todas as suas formas sociais.

0:41:36.749,0:41:40.849
Por isso, não tivemos necessidade de apresentar o trabalhador
em sua relação com outros trabalhadores.

0:41:40.849,0:41:46.219
O homem e seu trabalho, de um lado,
a Natureza e suas matérias, do outro, bastavam.

0:41:46.219,0:41:51.059
Tão pouco quanto o sabor do trigo revela quem o plantou,
podem-se reconhecer nesse processo

0:41:51.059,0:41:54.339
as condições em que ele decorre

0:41:54.339,0:41:59.099
se sob o brutal açoite do feitor de escravos
ou sob o olhar ansioso do capitalista,

0:41:59.099,0:42:05.440
se Cincinnatus o realiza
ao cultivar suas poucas jugera

0:42:05.440,0:42:09.889
ou o selvagem ao abater uma fera com uma pedra."

0:42:09.889,0:42:16.949
O processo de trabalho pode ser
descrito desta forma metabólica.

0:42:16.949,0:42:21.479
Mas agora temos de olhar mais especificamente
para o modo como o processo de trabalho

0:42:21.479,0:42:26.609
funciona no capitalismo.

0:42:26.609,0:42:29.279
Assim, de repente na página 291

0:42:29.279,0:42:36.279
ele muda o discurso e diz:
"Voltemos ao nosso capitalista em aspiração."

0:42:36.519,0:42:39.859
O capitalista compra força de trabalho.

0:42:39.859,0:42:42.869
Inicialmente o capitalista compra

0:42:42.869,0:42:49.229
a força de trabalho que encontra no mercado,
seja ela qual for.

0:42:49.229,0:42:53.080
Não estamos a falar de força de trabalho treinada,
estamos apenas a falar sobre

0:42:53.080,0:42:58.359
seja lá o que for que acontece lá.

0:42:58.359,0:43:02.239
E ao comprar força de trabalho,

0:43:02.239,0:43:07.529
o capitalista estabelece esta força para trabalhar.
E há duas condições:

0:43:07.529,0:43:11.559
Primeiro - o trabalhador trabalha
sob o controlo do capitalista

0:43:11.559,0:43:14.549
a quem pertence o seu trabalho.

0:43:14.549,0:43:18.479
A relação contratual é a seguinte:

0:43:18.479,0:43:22.179
Eu vendo a minha força de trabalho ao capitalista.

0:43:22.179,0:43:27.119
O capitalista leva esta força de trabalho
para dentro da fábrica e diz:

0:43:27.119,0:43:31.499
'A tua capacidade de trabalho agora pertence-me,
tu vais seguir as minhas instruções

0:43:31.499,0:43:37.440
e fazer aquilo que eu te disser para fazeres
em termos laborais'

0:43:37.440,0:43:40.060
Esta é a condição contratual.

0:43:40.060,0:43:42.229
A segunda condição é a seguinte:

0:43:42.229,0:43:47.179
"o produto é propriedade do capitalista,
e não do produtor directo,

0:43:47.179,0:43:53.039
do trabalhador."

0:43:53.039,0:44:01.599
Isto é, claro, uma interessante violação
da perspectiva Lockeana,

0:44:01.599,0:44:10.259
que a propriedade privada surja
da forma como as pessoas trabalham,

0:44:10.259,0:44:16.199
e incorpora o seu trabalho na terra,
e portanto isto pertence a eles.

0:44:16.199,0:44:23.239
Assim, a perspectiva Lockeana é que
a propriedade privada, e os direitos de a possuir,

0:44:23.239,0:44:28.599
independentemente do que se produz, é crucial.

0:44:28.599,0:44:33.929
Mas a regra aqui não é desse tipo.
É uma regra completamente diferente.

0:44:33.929,0:44:35.400
Diz ele: "A partir do momento

0:44:35.400,0:44:38.799
em que ele entrou na oficina do capitalista,
o valor de uso de sua força de trabalho,

0:44:38.799,0:44:43.189
portanto, sua utilização, o trabalho,
pertence ao capitalista.

0:44:43.189,0:44:49.210
O capitalista, mediante a compra da força de trabalho,
incorporou o próprio trabalho, como fermento vivo,…"

0:44:49.210,0:44:55.539
Novamente, a ideia do trabalho
como uma forma de fogo.

0:44:55.539,0:45:03.539
"… aos elementos mortos constitutivos do produto,
que lhe pertencem igualmente."

0:45:03.539,0:45:08.599
Assim, ele consome a força de trabalho.
O capitalista consome a força de trabalho,

0:45:08.599,0:45:17.489
e os meios de produção,
e o producto pertence ao capitalista.

0:45:19.159,0:45:26.159
O que leva à segunda secção:
"O processo de valorização".

0:45:27.369,0:45:30.119
O que o capitalista está a procurar

0:45:30.119,0:45:34.439
neste processo de conjugação

0:45:34.439,0:45:38.119
entre força de trabalho e meios de produção

0:45:38.119,0:45:40.649
no processo de trabalho?

0:45:40.649,0:45:44.309
O capitalista, diz Marx,

0:45:44.309,0:45:49.289
"… quer produzir uma mercadoria
cujo valor seja mais alto que a soma dos valores das mercadorias

0:45:49.289,0:45:51.819
exigidas para produzi-la,

0:45:51.819,0:45:55.150
os meios de produção e a força de trabalho,
para as quais adiantou seu bom dinheiro no mercado.

0:45:55.150,0:46:01.079
Quer produzir não só um valor de uso,
mas uma mercadoria,

0:46:01.079,0:46:09.759
não só valor de uso, mas valor e não só valor,
mas também mais-valia."

0:46:09.759,0:46:18.660
Portanto, o capitalista une,
como diz Marx,

0:46:18.660,0:46:23.299
o processo de trabalho
e o processo de criação de valor

0:46:23.299,0:46:27.970
no processo de produção.

0:46:27.970,0:46:39.489
Ou seja, há uma nova unidade que
o capitalista cria no interior da fábrica.

0:46:40.789,0:46:48.699
O que se segue então é a discussão
de como compreender o valor

0:46:48.699,0:46:53.640
que é produzido neste
processo de produção.

0:46:53.640,0:46:59.389
Primeiro temos de passar por uma consideração
sobre todo o trabalho passado

0:46:59.389,0:47:06.389
que está incorporado nos meios de produção.

0:47:06.910,0:47:10.949
E como diz nas páginas 294-295:

0:47:10.949,0:47:17.689
"Todo o trabalho contido no fio
é trabalho passado.

0:47:17.689,0:47:22.489
Que o tempo de trabalho exigido
para a produção dos elementos constitutivos do fio

0:47:22.489,0:47:26.040
tenha passado antes, estando no mais-que-perfeito,
enquanto o trabalho empregado diretamente no processo final,

0:47:26.040,0:47:29.919
a fiação, encontra-se mais perto do presente, no pretérito perfeito,
é uma circunstância absolutamente indiferente.

0:47:29.919,0:47:33.769
… Assim…" conclui "… pode considerar-se
o tempo de trabalho

0:47:33.769,0:47:39.689
contido no material de trabalho nos meios de trabalho,
como se tivesse sido despendido numa fase anterior do processo de fiação,

0:47:39.689,0:47:47.639
antes do trabalho finalmente acrescentado,
sob a forma de fiação."

0:47:47.639,0:47:53.150
O mesmo é verdade para as máquinas,

0:47:53.150,0:47:56.869
as rocas, os fusos, e tudo o resto.

0:47:56.869,0:48:00.869
Mas, novamente, temos uma condição
implicada nisto.

0:48:00.869,0:48:04.849
O trabalho passado tem de ser
trabalho passado socialmente necessário,

0:48:04.849,0:48:10.739
a roca tem de ser uma roca
que é feita duma forma socialmente necessária.

0:48:10.739,0:48:16.569
Assim, ele usa o exemplo,
bem se vocês tiverem uma roca de ouro,

0:48:16.569,0:48:19.039
é difícil. Vocês vão ter de trabalhar
como se a roca -

0:48:19.039,0:48:21.619
o valor com que vão trabalhar vai depender

0:48:21.619,0:48:28.619
do tempo de trabalho socialmente necessário
incorporado nas rocas.

0:48:34.309,0:48:38.979
Portanto, o processo de trabalho então
é colocado a trabalhar dessa forma

0:48:38.979,0:48:41.219
onde vocês estão a usar trabalho passado,

0:48:41.219,0:48:50.629
o valor do trabalho passado
e colocá-lo a trabalhar.

0:48:50.629,0:48:59.769
E o valor vai ser
o valor que o trabalhador acrescenta

0:48:59.769,0:49:06.609
ao valor desse trabalho passado
que está incorporado nos meios de produção.

0:49:06.609,0:49:09.619
Mas quando fazemos uma simples contabilidade disto,

0:49:09.619,0:49:13.019
no fundo da página 297,

0:49:13.019,0:49:16.449
ele fala sobre isto e diz:
'Bem, como sabem,

0:49:16.449,0:49:20.729
vocês podem fazer a contabilidade desta forma,
e o que surge disto

0:49:20.729,0:49:23.089
não é nenhuma mais-valia…'

0:49:23.089,0:49:27.089
"Nosso capitalista fica perplexo.
O valor do produto é igual

0:49:27.089,0:49:29.089
ao valor do capital adiantado.

0:49:29.089,0:49:33.869
O valor adiantado não se valorizou,
não produziu mais-valia,

0:49:33.869,0:49:39.099
o dinheiro não se transformou pois em capital."

0:49:39.099,0:49:43.549
Então o capitalista apresenta
uma série de argumentos:

0:49:43.549,0:49:46.999
'Isto está errado,

0:49:46.999,0:49:50.309
considere-se primeiro a minha abstinência;

0:49:50.309,0:49:54.489
Eu abstive-me de passar um bom momento,

0:49:54.489,0:49:58.079
através do consumo do meu dinheiro.
Eu investi-o;

0:49:58.079,0:50:03.999
não mereço obter algum retorno disto?

0:50:03.999,0:50:07.659
Não há alguma razão pela qual

0:50:07.659,0:50:12.309
eu deveria obter mais dinheiro
simplesmente em virtude da minha abstinência?'

0:50:12.309,0:50:14.309
E, na verdade, todo

0:50:14.309,0:50:18.409
o argumento sobre a 'Ética Protestante"
e abstinência e esse tipo de coisas tem aqui

0:50:18.409,0:50:23.749
um importante papel em toda a história
de como as pessoas pensam sobre o capitalismo…

0:50:23.749,0:50:29.589
'Sim, foi um retorno da abstinência!'

0:50:29.589,0:50:33.289
Um segundo ponto, diz ele:

0:50:33.289,0:50:37.890
'Bem, eu na verdade crio emprego.

0:50:37.890,0:50:44.299
Não mereço algo por
proporcionar emprego às pessoas?'

0:50:44.299,0:50:48.139
Eu costumava ter esta discussão
com a minha mãe o tempo todo. Eu dizia:

0:50:48.139,0:50:50.829
'Vamos abolir os capitalistas' e ela dizia:

0:50:50.829,0:50:53.829
'Bem, quem iria empregar as pessoas
se não houvesse nenhum capitalista?'

0:50:53.829,0:50:56.769
Eu dizia: 'Bem, existem muitas outras
formas de fazê-lo.'

0:50:56.769,0:50:59.829
'Não, não, nós precisamos dos capitalistas para
empregar as pessoas' … todo o tempo. Vocês sabem…

0:50:59.829,0:51:02.089
'Eles são muito importantes,

0:51:02.089,0:51:06.499
quantos mais, melhor,' dizia ela,
o que me levava à loucura;

0:51:06.499,0:51:09.779
… impossível ultrapassar esta lógica.

0:51:09.779,0:51:14.779
E o terceiro argumento é:
'Bem, eu trabalhei,

0:51:14.779,0:51:19.079
trabalhei arduamente. Isto é, não me limitei a sentar
e a colocar os pés em cima da mesa.

0:51:19.079,0:51:23.799
Eu trabalhei arduamente, na verdade, criando este
processo de produção. Fiz esse todo tipo de coisas.'

0:51:23.799,0:51:27.119
Claro, o que nós esquecemos de dizer aqui
é que, na verdade,

0:51:27.119,0:51:31.829
os capitalistas costumam pagar-se duas vezes.

0:51:31.829,0:51:36.759
Na medida em que eles pagam a si próprios
uma taxa de gestão.

0:51:36.759,0:51:40.809
Eles pagam-se a si próprios enquanto gestores.

0:51:40.809,0:51:47.809
Em seguida, eles adicionam uma taxa de juro
pelo capital que avançaram.

0:51:48.449,0:51:53.619
Atenção, pequenos empreendedores não fazem isso.
Obviamente, fundem isto num conjunto.

0:51:53.619,0:52:00.429
Mas, seguramente, nas grandes corporações,
vocês têm esta coisa dupla,

0:52:00.429,0:52:06.359
vocês estão a receber uma taxa e, em seguida,
vocês recebem algo em cima disso.

0:52:06.359,0:52:10.019
A forma mais simples de olhar para isto
é a diferença entre

0:52:10.019,0:52:17.019
o salário de gestão que um CEO recebe,
e o que eles obtém através das acções da bolsa;

0:52:18.099,0:52:22.330
o que tem tudo a ver com, como sabem,
quanta mais-valia vocês conseguiram…

0:52:22.330,0:52:25.199
imaginem o que criaram,
mesmo que não o tenham feito,

0:52:25.199,0:52:32.199
no curto espaço de tempo em que foram CEO.

0:52:32.279,0:52:39.049
Portanto, o capitalista tenta usar
todo este tipo de argumentos em conjunto.

0:52:39.049,0:52:42.689
Marx ri-se destes três argumentos e diz:

0:52:42.689,0:52:49.939
'Bem, não são argumentos realmente sérios.'

0:52:49.939,0:52:56.359
Assim, ele passa a falar muito explicitamente
sobre o que acontece;

0:52:56.359,0:53:03.359
e as passagens-chave
estão nas páginas 300 e 301.

0:53:03.909,0:53:07.199
Diz ele: "Examinemos a coisa mais de perto.

0:53:07.199,0:53:10.839
O valor de um dia da força de trabalho
importava em 3 xelins,…"

0:53:10.839,0:53:13.759
lembrem-se que o valor
da força de trabalho é definido pelo

0:53:13.759,0:53:18.309
valor das mercadorias necessárias para suportar
o trabalhador dentro de um determinado padrão de vida,

0:53:18.309,0:53:26.129
e isso é 3 xelins na contabilidade de Marx.

0:53:26.129,0:53:31.329
E que esses 3 xelins podem ser
criados através de meio dia de trabalho.

0:53:31.329,0:53:35.899
E, diz ele: "O fato de que meia jornada seja necessária
para mantê-lo vivo durante 24 horas

0:53:35.899,0:53:42.179
não impede o trabalhador, de modo algum,
de trabalhar uma jornada inteira.

0:53:42.179,0:53:46.289
O valor da força de trabalho
e sua valorização no processo de trabalho são,

0:53:46.289,0:53:51.440
portanto, duas grandezas distintas.

0:53:51.440,0:53:56.649
Essa diferença de valor o capitalista
tinha em vista quando comprou a força de trabalho.

0:53:56.649,0:54:00.150
Sua propriedade útil, de poder fazer fio ou botas,

0:54:00.150,0:54:03.989
era apenas uma conditio sine qua non,

0:54:03.989,0:54:09.619
pois o trabalho para criar valor
tem de ser despendido em forma útil.

0:54:09.619,0:54:14.649
Mas o decisivo foi o valor de uso específico
dessa mercadoria ser fonte de valor"…

0:54:14.649,0:54:19.830
isto é: a força de trabalho que possui .

0:54:19.830,0:54:22.499
"e de mais valor do que ela mesma tem.

0:54:22.499,0:54:26.780
Esse é o serviço específico que o capitalista dela espera.

0:54:26.780,0:54:32.890
E ele procede, no caso, segundo as leis eternas
do intercâmbio de mercadorias.

0:54:32.890,0:54:37.369
Na verdade, o vendedor da força de trabalho,
como o vendedor de qualquer outra mercadoria,

0:54:37.369,0:54:41.909
realiza seu valor de troca
e aliena seu valor de uso."

0:54:41.909,0:54:50.140
Lembre-se da última vez que mencionámos
o trabalho neste circuito M-D-M.

0:54:50.140,0:54:57.880
O vendedor vende a força de trabalho por dinheiro
para poder obter mercadorias para viver.

0:54:57.880,0:55:02.939
E não há violação
a esta lei de troca.

0:55:02.939,0:55:05.880
Assim, no final da página 301, Marx diz:

0:55:05.880,0:55:09.420
"Todas as condições do problema foram resolvidas e,
de modo algum, as leis do intercâmbio

0:55:09.420,0:55:11.730
de mercadorias foram violadas.

0:55:11.730,0:55:14.609
Trocou-se equivalente por equivalente.

0:55:14.609,0:55:18.369
O capitalista pagou, como comprador,
toda mercadoria por seu valor,

0:55:18.369,0:55:22.519
algodão, massa de fusos, força de trabalho.

0:55:22.519,0:55:29.519
Depois fez o que faz qualquer outro comprador de mercadorias.
Consumiu seu valor de uso."

0:55:29.689,0:55:34.489
A seguir ele prossegue através de um conjunto
de coisas que já mencionara anteriormente.

0:55:34.489,0:55:38.660
Todo esse seguimento,
a transformação de seu dinheiro em capital,

0:55:38.660,0:55:42.289
se opera na esfera da circulação
e não se opera nela."

0:55:42.289,0:55:47.209
Lembrem-se o que foi dito
na página 269.

0:55:47.209,0:55:50.939
Na passagem seguinte ele fala sobre
as propriedades mágicas;

0:55:50.939,0:55:54.260
lembrem-se do ganso que
magicamente botava ovos de ouro.

0:55:54.260,0:55:56.579
Bem, aqui vocês vêem o segredo disto;

0:55:56.579,0:56:02.249
como é que "…valor que se valoriza a si mesmo,"
aparece como

0:56:02.249,0:56:10.249
um monstro animado que começa a “trabalhar”
como se tivesse amor no corpo."

0:56:10.629,0:56:15.309
E tudo isto acontece porque

0:56:15.309,0:56:19.859
quando recebem dos trabalhadores a força de trabalho

0:56:19.859,0:56:25.189
vocês obtêm-na por um tempo,
e colocam o trabalhador no trabalho,

0:56:25.189,0:56:29.509
e depois de três horas, ou seis horas, ou o que for
eles reproduzem o equivalente ao seu valor,

0:56:29.509,0:56:33.899
e então trabalham mais seis horas.

0:56:33.899,0:56:37.159
Essa é a vossa mais-valia.

0:56:37.159,0:56:40.769
Que, claro, leva à questão de:

0:56:40.769,0:56:45.599
'Bem, por que não param de trabalhar
ao fim de seis horas?

0:56:45.599,0:56:48.859
Bem, haverá uma luta de classes
sobre o dia de trabalho;

0:56:48.859,0:56:52.169
por razões óbvias,
o capitalista quer que ele trabalhe

0:56:52.169,0:56:56.169
doze horas, não seis horas.

0:56:56.169,0:56:59.169
E o outro problema é que
da forma como isso é configurado,

0:56:59.169,0:57:02.350
torna-se muito difícil ver
quando o foi atingido o momento

0:57:02.350,0:57:09.350
da reprodução da força de trabalho.

0:57:10.749,0:57:13.249
Portanto, respondemos à questão:

0:57:13.249,0:57:17.409
'De onde vem a desigualdade?'

0:57:17.409,0:57:21.579
E esse é talvez um bom ponto
no qual devemos parar.

0:57:21.579,0:57:25.129
O ponto final é que Marx
vai voltar

0:57:25.129,0:57:30.849
à definição do 'socialmente necessário',
e assim ele estabelece essas condições na página 303.

0:57:32.899,0:57:35.089
'Socialmente necessário' significa:

0:57:35.089,0:57:39.089
Primeiro, "a força de trabalho tem de funcionar
em condições normais."

0:57:39.089,0:57:42.799
Sejam lá quais forem essas 'condições normais'
"Outra condição", diz ele

0:57:42.799,0:57:46.839
"é o caráter normal da própria força de trabalho."

0:57:46.839,0:57:52.499
E obviamente isso depende muito
do tipo particular de troca em que se está.

0:57:52.499,0:57:56.569
E então ele introduz algo
que, penso eu, é bastante importante mais tarde

0:57:56.569,0:57:59.569
mas ele introduz aqui.

0:57:59.569,0:58:06.669
"Essa força tem de ser despendida no grau médio habitual de esforço,
com o grau de intensidade socialmente usual."

0:58:06.669,0:58:09.899
Marx não usou muito o termo intensidade até agora.

0:58:09.899,0:58:13.899
Ocorreu apenas um par de vezes.
Mas é melhor estarem atentos,

0:58:13.899,0:58:18.339
porque isto acompanha o argumento,
e torna-se bastante significativo mais tarde.

0:58:18.339,0:58:23.369
E assim a questão da intensidade
é significativa.

0:58:23.369,0:58:26.790
E claro ele então introduz
uma ideia que

0:58:26.790,0:58:29.199
vai ser feita muito mais tarde,

0:58:29.199,0:58:33.720
quando fala sobre a forma pela qual o capitalista
"Comprou a força de trabalho por prazo determinado.

0:58:33.720,0:58:36.189
Insiste em ter o que é seu."

0:58:36.189,0:58:38.269
Portanto, a questão dos direitos aparece.

0:58:38.269,0:58:40.789
"Não quer ser roubado.

0:58:40.789,0:58:43.949
Finalmente — e para isso tem ele seu próprio código penal —

0:58:43.949,0:58:50.309
não deve ocorrer nenhum consumo desnecessário
de matéria-prima e meios de trabalho…"

0:58:53.559,0:58:58.819
Na página 304 eu penso que
o que ele faz é simplesmente dizer isso:

0:58:58.819,0:59:04.130
"Como unidade do processo de trabalho
e processo de formação de valor,

0:59:04.130,0:59:08.029
o processo de produção
é processo de produção de mercadorias;

0:59:08.029,0:59:12.439
como unidade do processo de trabalho
e processo de valorização,

0:59:12.439,0:59:17.979
é ele processo de produção capitalista,
forma capitalista da produção de mercadorias."

0:59:17.979,0:59:25.860
Portanto, novamente ele está a criar uma diferença
entra a forma capitalista da produção de mercadorias,

0:59:25.860,0:59:30.269
e o tipo particular de unidade,
que está a ser diferenciado dentro desta forma;

0:59:30.269,0:59:36.349
que é naturalmente a unidade do processo de trabalho
e a produção de mais-valia.

0:59:36.349,0:59:42.599
Isto é o âmago de tudo isto.
Assim, a evolução do processo de trabalho

0:59:42.599,0:59:48.660
no capitalismo vai ser muito sobre
a manutenção desta unidade;

0:59:48.660,0:59:54.130
não apenas de produção.

0:59:54.130,0:59:58.209
Então ele volta a toda a questão

0:59:58.209,1:00:03.009
das habilidades na página 305.

1:00:03.009,1:00:07.279
Onde ele diz: vocês sabem,
temos também de perceber

1:00:07.279,1:00:13.899
que o processo de trabalho emprega pessoas
com habilidades diferentes. O que significa habilidade?

1:00:13.899,1:00:19.869
E ele chama a atenção para o facto
de muitas dessas definições serem bastante arbitrárias.

1:00:19.869,1:00:27.959
E, na verdade, há uma longa história
da definição das habilidades em que

1:00:27.959,1:00:33.019
a definição não tem nada a ver com
a natureza actual do processo de trabalho.

1:00:33.019,1:00:38.739
Por exemplo, em França, no século XIX, se as mulheres pudessem fazer, era não qualificado por definição;

1:00:38.739,1:00:41.039
ponto final.

1:00:41.039,1:00:45.489
Assim que se introduzia mulheres, de repente
tornava-se não qualificado. É por isso

1:00:45.489,1:00:52.999
que tantos anarquistas como Proudhon
eram contra ter mulheres na oficina.

1:00:52.999,1:00:57.059
Profundamente contra o emprego
das mulheres; por isso o anarquista

1:00:57.059,1:01:00.159
Proudhon achava que as mulheres
deviam estar em casa, e não na oficina.

1:01:00.159,1:01:05.219
E, de facto, a Primeira Internacional
dividiu-se na questão de saber se as mulheres

1:01:05.219,1:01:08.989
eram bem-vindas no emprego
ou se não eram.

1:01:08.989,1:01:12.359
E a ala do anarquista Proudhon disse:
'Não, elas não são bem-vindas.'

1:01:12.359,1:01:19.249
Mas isso teve muito a ver com
o facto de a base

1:01:19.249,1:01:23.239
do movimento do Proudhon ser
essencialmente constituída por artesãos qualificados.

1:01:23.239,1:01:26.629
E eles sabiam muitíssimo bem que assim que
as mulheres fossem introduzidas na oficina

1:01:26.629,1:01:29.440
a fazer os seus trabalhos (os artesãos qualificados)
iriam ser chamados de não qualificados.

1:01:29.440,1:01:31.379
E eles vão ser seriamente…

1:01:31.379,1:01:34.790
Portanto, houve uma definição de processo social lá,
que foi muito importante.

1:01:34.790,1:01:37.079
Assim, Marx menciona um pouco…

1:01:37.079,1:01:42.229
disto quando fala: "…baseia-se na situação desamparada"
isto é a nota de rodapé.

1:01:42.229,1:01:49.229
Tal como diz: "A diferença entre trabalho superior e trabalho simples
…baseia-se, em parte, em meras ilusões…

1:01:49.339,1:01:52.219
…diferenças que há muito tempo cessaram de ser reais

1:01:52.219,1:01:57.979
em parte baseia-se na situação desamparada
de certas camadas da classe trabalhadora…"

1:01:58.309,1:02:00.940
Mas então, há porém este problema,

1:02:00.940,1:02:06.389
o que fazer com a situação do trabalho qualificado
altamente produtivo,

1:02:06.389,1:02:10.489
e como é que vamos…
contabilizar a forma

1:02:10.489,1:02:14.390
como trabalham no processo de trabalho?

1:02:14.390,1:02:19.039
E obviamente eles…

1:02:19.039,1:02:24.010
Tal como diz: "Se o valor dessa força é superior,
ela se exterioriza, por conseguinte, em trabalho superior

1:02:24.010,1:02:27.390
e se objetiva nos mesmos períodos de tempo,

1:02:27.390,1:02:30.129
em valores proporcionalmente mais altos."

1:02:30.129,1:02:33.229
Isto é, trabalho qualificado incorpora
mais valor no produto

1:02:33.229,1:02:37.609
que o trabalho não qualificado.
Este é o argumento que está aqui a ser feito.

1:02:37.609,1:02:42.439
Isto não afecta a teoria da mais-valia.
Mas afecta todo o cálculo

1:02:42.439,1:02:47.769
exactamente no modo como
compreendemos o valor da força de trabalho,

1:02:47.769,1:02:54.299
tanto como é empregue e como é produzido
no processo de trabalho.

1:02:54.299,1:02:59.129
Mas Marx empurra todo este argumento
para o final do capítulo, simplesmente dizendo:

1:02:59.129,1:03:02.979
"Evita-se, portanto, uma operação supérflua
e simplifica-se a análise,

1:03:02.979,1:03:07.129
por meio da suposição de que o trabalhador empregado
pelo capital executa trabalho social médio simples."

1:03:07.129,1:03:11.199
Assim, ele não se vai preocupar mais
com este problema.

1:03:11.199,1:03:15.769
Como penso ter mencionado anteriormente,
quando este mesmo problema surgiu

1:03:15.769,1:03:17.809
num contexto um pouco diferente,
de uma forma um pouco diferente,

1:03:17.809,1:03:21.179
isto é um pouco um problema na análise de Marx,
e algumas pessoas fizeram disto

1:03:21.179,1:03:26.739
uma fraqueza da análise de Marx;
assim, vocês podem querer ir

1:03:26.739,1:03:33.419
a essa literatura se quiserem
aprofundar o vosso argumento.

1:03:33.419,1:03:42.419
Os próximos dois capítulos são, de certa forma,
muito simples em termos de conteúdo.

1:03:42.419,1:03:49.869
E eu penso que não é realmente necessário para mim
despender muito tempo com eles.

1:03:49.869,1:03:53.139
Ele define o capital constante.

1:03:53.139,1:03:58.999
E é constante porque é trabalho passado,

1:03:58.999,1:04:04.559
que está sendo incorporado nos produtos
antes da sua incorporação

1:04:04.559,1:04:08.239
através de um tipo particular de processo de trabalho.

1:04:08.239,1:04:12.069
O valor deste trabalho,
o valor das mercadorias,

1:04:12.069,1:04:16.429
o valor dos meios de produção
é fixo.

1:04:16.429,1:04:20.139
O que aconteceu a este valor?

1:04:20.139,1:04:27.089
Marx argumenta: "Essa transferência ocorre durante a transformação
dos meios de produção em produto, no processo de trabalho."

1:04:27.089,1:04:31.569
Portanto, o valor total de todos estes meios de produção,

1:04:31.569,1:04:37.219
que são usados no processo de produção,
acabam saindo do outro lado

1:04:37.219,1:04:39.280
como o mesmo valor total.

1:04:39.280,1:04:42.979
É constante, e é por isso
que ele lhe chama capital constante.

1:04:42.979,1:04:44.549
A transferência de valor…

1:04:44.549,1:04:49.899
a mesma quantidade de valor sai no fim
tal como foi no início.

1:04:49.899,1:04:56.499
Agora, isto coloca alguns problemas em particular
que ele vai analisar com algum detalhe neste capítulo.

1:04:56.499,1:04:58.819
Ok, isto faz sentido

1:04:58.819,1:05:03.819
quando estamos a olhar para o algodão
que termina numa camisa.

1:05:03.819,1:05:07.549
Mas o que acontece quando estamos a lidar
com entradas de energia?

1:05:07.549,1:05:12.829
O que acontece quando estamos a lidar
com materiais que desaparecem?

1:05:12.829,1:05:21.239
O que acontece com as máquinas
que duram muito tempo, digamos, dez anos,

1:05:21.239,1:05:24.399
ou algo do género? O que acontece?

1:05:24.399,1:05:29.469
Marx vai dizer: 'Há um valor que se transfere

1:05:29.469,1:05:33.619
mesmo quando não há transferência de material.'

1:05:33.619,1:05:37.739
A máquina não passa bocados
de si mesma para o produto

1:05:37.739,1:05:42.199
- pelo menos, vocês esperam que não.

1:05:42.199,1:05:46.679
Parte do valor da máquina
é passado para o produto,

1:05:46.679,1:05:49.869
mas no fim do dia
a máquina continua lá -

1:05:49.869,1:05:53.349
então, quanto do valor da máquina
passou para o produto?

1:05:53.349,1:05:57.669
Bem, Marx faz um simples argumento
directo depreciativo sobre isto. Diz ele:

1:05:57.669,1:06:00.879
'Bem, se são dez anos

1:06:00.879,1:06:06.569
então um décimo do valor da máquina
passa para o produto a cada ano.

1:06:06.569,1:06:10.900
E vocês calculam isto para as mercadorias.
Deste modo, uma pequena parte da valor da máquina termina

1:06:10.900,1:06:15.429
em sapatos, camisas, ou o que for;
em cada sapato ou camisa.

1:06:15.429,1:06:20.069
Portanto, há aqui uma transferência de valor
a acontecer. Uma vez mais, isso é interessante,

1:06:20.069,1:06:29.399
isso claro só pode acontecer precisamente
porque o valor é imaterial mas objectivo.

1:06:29.399,1:06:35.229
Lembre-se da definição dita atrás:
'Valor é imaterial mas objectivo.'

1:06:35.229,1:06:43.969
Tempo de trabalho socialmente necessário
é uma relação social. Tem um significado social,

1:06:43.969,1:06:51.529
e os meios da sua transferência
são socialmente obrigatórios.

1:06:51.529,1:06:54.299
E é obrigatório desta forma,

1:06:54.299,1:07:00.149
que o valor dessas entradas
é incorporado no resultado

1:07:00.149,1:07:03.339
como o mesmo valor.

1:07:03.339,1:07:06.939
Agora, Marx vai dar
uma grande relevância ao facto

1:07:06.939,1:07:13.939
de que esta transferência de valor
é dada ao capitalista gratuitamente pelo trabalhador.

1:07:14.409,1:07:19.049
Que se o trabalhador não estivesse a fazer
o que está a fazer

1:07:19.049,1:07:24.329
os valores incorporados
nestes meios de produção perder-se-ão.

1:07:24.329,1:07:32.639
Se as máquinas não forem usadas,
o valor incorporado nelas perder-se-ia.

1:07:32.639,1:07:40.049
Assim, o que o trabalhador está a fazer
é a transferir o valor através do consumo produtivo.

1:07:40.049,1:07:43.519
Lembrar o termo:
'através do consumo produtivo'.

1:07:43.519,1:07:48.389
É o que o trabalhador está a fazer.

1:07:48.389,1:07:53.219
E a razão pela qual Marx
está a fazer disto um grande argumento

1:07:53.219,1:07:58.569
é precisamente porque vocês podem ver
o quanto isto confere poder ao trabalho.

1:07:58.569,1:08:02.509
Saber que se entra em greve,

1:08:02.509,1:08:06.279
se pára todo o sistema,

1:08:06.279,1:08:10.839
a transferência de valor também é interrompida.

1:08:10.839,1:08:14.630
O valor incorporado nas máquinas
que o capitalista tem, e que é suposto

1:08:14.630,1:08:19.269
durar dez anos e trabalhar dez anos,
vai perder-se.

1:08:19.269,1:08:22.839
Por outras palavras, parte do que Marx
está aqui a fazer, é tentar

1:08:22.839,1:08:25.469
trabalhar através do sistema de contabilidade

1:08:25.469,1:08:31.420
a partir do ponto de vista do trabalhador,
para dizer ao trabalhador: 'Vejam o que estão a fazer!

1:08:31.420,1:08:37.589
Vocês estão na realidade a preservar o seu valor.'

1:08:37.589,1:08:40.009
E claro vocês podem começar a fazer

1:08:40.009,1:08:44.459
um contra-argumento, em relação ao que o capitalista diz:
'Bem, eu estou a dar-vos emprego'

1:08:44.459,1:08:48.250
virando-se para o capitalista dizendo:
'Sim, mas eu estou a preservar o vosso valor.

1:08:48.250,1:08:52.199
Vocês não deviam pagar-me um pouco mais
para preservar o vosso valor?

1:08:52.199,1:08:58.849
Sem mim vocês não iriam preservar o vosso valor.
Vocês perderiam todo o vosso valor'.

1:08:58.849,1:09:02.630
Assim, Marx vai falar sobre isso como se fosse

1:09:02.630,1:09:09.009
quase um fenómeno de contabilidade;
a forma como o valor é transferido.

1:09:09.009,1:09:17.440
Então, claro, o trabalhador vai
essencialmente acrescentar valor

1:09:17.440,1:09:20.149
a valor dos meios de produção.

1:09:20.149,1:09:26.659
Assim, na verdade, o que Marx está
aqui a propor é uma teoria de valor acrescentado

1:09:26.659,1:09:31.180
da produção de mais-valia.

1:09:31.180,1:09:35.989
E porque é valor acrescentado,
ele define esta capacidade

1:09:35.989,1:09:41.049
de acrescentar valor como
'Capital variável',

1:09:41.049,1:09:45.049
e é variável porque aumenta a quantidade de valor.

1:09:45.049,1:09:51.089
O trabalhador ao trabalhar incorpora
mais tempo socialmente necessário

1:09:51.089,1:09:54.340
nas matérias-primas existentes ou pré-existentes,

1:09:54.340,1:10:00.079
usando uma maquinaria pré-existente,
e está a acrescentar valor.

1:10:00.079,1:10:05.250
Portanto, é a ideia de valor acrescentado
que Marx está aqui a trabalhar.

1:10:05.250,1:10:08.499
E como o trabalhador acrescenta valor,

1:10:08.499,1:10:11.590
chegam a este ponto,

1:10:11.590,1:10:15.789
onde a quantidade de valor
que foram adicionados ao produto

1:10:15.789,1:10:20.789
é equivalente ao valor
da sua própria força de trabalho.

1:10:20.789,1:10:23.069
E como vimos na contabilidade
que foi feita antes,

1:10:23.069,1:10:28.880
que ocorre depois de, digamos, seis horas,

1:10:28.880,1:10:32.239
vale três xelins, ou seja lá o que for.

1:10:32.239,1:10:38.919
Assim, depois de seis horas
o trabalhador acrescentou valor suficiente

1:10:38.919,1:10:42.679
para cobrir os seus custos de reprodução

1:10:42.679,1:10:48.860
num determinado padrão de vida,
numa dada sociedade e num dado momento,

1:10:48.860,1:10:52.139
sabendo que o valor da força de trabalho é

1:10:52.139,1:10:57.489
numa determinada sociedade, num dado momento.

1:10:57.489,1:11:01.309
Mas o que o trabalhador então faz
é acrescentar ainda mais valor,

1:11:01.309,1:11:06.039
o que leva Marx a dizer:
'chamamos mais-valia'.

1:11:06.039,1:11:10.899
Assim, o valor do produto
no fim do processo vai ser

1:11:10.899,1:11:14.030
a soma destes três elementos:

1:11:14.030,1:11:18.039
- capital constante, o valor disto;

1:11:18.039,1:11:24.840
- capital variável, que é equivalente
ao valor da força de trabalho;

1:11:24.840,1:11:28.909
- e a mais-valia.

1:11:28.909,1:11:34.039
E vocês têm de pensar nisto como algo
que está incorporado em todas as mercadorias.

1:11:34.039,1:11:41.969
Cada mercadoria individual é feita de um elemento C
um elemento V e um elemento MV.

1:11:41.969,1:11:48.969
E é um processo de produção contínuo.

1:11:50.349,1:11:57.349
Portanto, o que Marx faz neste capítulo
em relação ao capital constante e variável

1:11:58.960,1:12:05.960
é falar com alguma profundidade
sobre a forma como o valor é transferido,

1:12:07.369,1:12:11.409
e a importância desta transferência,

1:12:11.409,1:12:18.409
e, em seguida, de como o valor é acrescentado;

1:12:19.219,1:12:25.249
o que o leva à definição,
que lhe interessa na página 317,

1:12:25.249,1:12:31.039
onde diz: "A parte do capital, portanto,
que se converte em meios de produção,

1:12:31.039,1:12:35.859
isto é, em matéria-prima,
matérias auxiliares e meios de trabalho,

1:12:35.859,1:12:40.980
não altera sua grandeza de valor
no processo de produção.

1:12:40.980,1:12:47.159
Eu a chamo, por isso, parte constante do capital,
ou mais concisamente: capital constante."

1:12:47.159,1:12:50.669
E em seguida ele prossegue, dizendo:
"A parte do capital convertida em força de trabalho

1:12:50.669,1:12:52.969
em contra-posição muda seu valor
no processo de produção.

1:12:52.969,1:12:58.199
(..) Eu a chamo, por isso, parte variável do capital,

1:12:58.199,1:13:04.099
ou mais concisamente: capital variável."

1:13:04.099,1:13:11.349
Estas definições vão ser importantes
para o que se segue.

1:13:11.349,1:13:17.960
Valor constante, capital constante
não é sobre a criação de valor;

1:13:17.960,1:13:23.839
não é,… não pode ser
no sistema de contabilidade de Marx.

1:13:23.839,1:13:31.379
Imediatamente verão que as máquinas
não podem ser uma fonte de valor.

1:13:31.379,1:13:38.379
O que todas as máquinas fazem é transferir valor;
o seu próprio valor, e o valor de outras coisas.

1:13:42.769,1:13:49.480
Isto dá origem a algumas
ideias contra-intuitivas.

1:13:49.480,1:13:55.369
As pessoas normalmente pensam nas máquinas
como uma fonte de valor.

1:13:55.369,1:14:02.369
Se as máquinas não são uma fonte de valor,
por que motivo os capitalistas investem nelas?

1:14:04.800,1:14:09.639
Nada disto significa, claro,
que o capital variável

1:14:09.639,1:14:12.889
e o capital constante
não estejam a trocar valor.

1:14:12.889,1:14:19.089
Ele deixa bem claro que o valor das matérias-primas
podem oscilar para cima ou para baixo, dependendo

1:14:19.089,1:14:24.969
das condições do trabalho e em todas essas indústrias
que estão a produzir matérias-primais ou as máquinas.

1:14:24.969,1:14:28.749
Assim, chamar-lhe 'Capital constante' não é
dizer que 'é sempre constante', mas apenas dizer:

1:14:28.749,1:14:34.000
'É constante na medida em que entra
no processo de produção,

1:14:34.000,1:14:38.889
e sai quantitativamente igual.

1:14:38.889,1:14:43.309
No capítulo nove, o que ele pretende

1:14:43.309,1:14:47.239
é muito simples.

1:14:47.239,1:14:52.119
O que ele pretende

1:14:52.119,1:14:57.070
tal como diz na página 326 (nota de rodapé):

1:14:57.070,1:15:04.070
"́a expressão exata do grau de exploração,
da força de trabalho pelo capital

1:15:05.179,1:15:10.460
ou do trabalhador pelo capitalista."

1:15:10.460,1:15:26.670
E ele joga aqui com estas categorias de
C mais V mais MV e diz:

1:15:26.670,1:15:30.320
'Bem, o que parecem estas relações?

1:15:30.320,1:15:46.839
O que faz, por exemplo, o rácio
de C sobre V?

1:15:46.839,1:15:53.399
É um rácio entre o valor
das matérias-primas

1:15:53.399,1:15:57.400
que um dado trabalhador,

1:15:57.400,1:15:59.679
que é contratado, pode processar.

1:15:59.679,1:16:07.150
Quanto maior for,
maior será o nível de produtividade.

1:16:07.150,1:16:12.199
Trabalho altamente produtivo
transferirá muito de C

1:16:12.199,1:16:18.150
com pouca entrada de V.

1:16:18.150,1:16:25.150
Portanto, há algum tipo de

1:16:25.339,1:16:32.119
medida de produtividade
que está envolvido nisto.

1:16:32.119,1:16:38.809
Vocês então perguntam-se:
qual é a relação entre MV sobre V?

1:16:38.809,1:16:41.519
É a quantidade de excedente

1:16:41.519,1:16:44.469
na relação, e ele tem

1:16:44.469,1:16:50.029
várias formas de olhar para isto,
a quantidade de excedente versus capital variável.

1:16:50.029,1:16:54.350
Mas também pode ser colocado noutros termos.

1:16:54.350,1:16:58.689
Trabalho necessário, i.e.
o trabalho necessário para reproduzir

1:16:58.689,1:17:04.929
o trabalhador é V, trabalho excedente.

1:17:04.929,1:17:16.820
E este é a taxa de exploração.

1:17:22.170,1:17:28.510
Depois há outra coisa,

1:17:28.510,1:17:33.110
que é a taxa de lucro,

1:17:33.110,1:17:39.569
que é o excedente sobre
o montante total do capital avançado,

1:17:39.569,1:17:46.569
que é C mais V.

1:17:48.219,1:17:52.949
O que é mais alto, a taxa de exploração
ou a taxa de lucro?

1:17:52.949,1:17:55.560
A taxa de exploração.

1:17:55.560,1:17:58.689
De que é que o capitalista está sempre a falar?

1:17:58.689,1:18:01.609
Da taxa de lucro.

1:18:01.609,1:18:05.139
Portanto, uma vez mais o que Marx está aqui a fazer

1:18:05.139,1:18:09.219
é a criação de um sistema de contabilidade

1:18:09.219,1:18:12.360
que vai para além das formas em que

1:18:12.360,1:18:15.400
a burguesia tipicamente calcula

1:18:15.400,1:18:21.110
e tipicamente argumenta.

1:18:21.110,1:18:26.729
Vocês podem ser profundamente
explorados no processo de trabalho,

1:18:26.729,1:18:32.199
mas o capitalista pode ter
um pequena taxa de lucro. Então, quando vocês vão

1:18:32.199,1:18:36.469
ter com a gestão e dizem:
'Hei, eu estou a ser altamente explorado, eu não gosto disto',

1:18:36.469,1:18:42.349
e a gestão diz: 'Bem, olhe para
a minha taxa de lucro, é muito, muito baixa.'

1:18:42.349,1:18:47.400
E se vocês forem muito ingénuos dizem:
'Pois, vocês não estão a ganhar muito, pois não?'

1:18:47.400,1:18:51.320
'coitadinhos, eu irei trabalhar mais.'

1:18:51.320,1:18:58.320
Bem, o que Marx está a dizer é: convém estarem atentos,
porque para onde vocês devem realmente olhar

1:18:58.320,1:19:01.050
é para a taxa de exploração. Que é a quantidade

1:19:01.050,1:19:06.260
de tempo de trabalho, tempo de trabalho socialmente necessário,
que vocês estão a dar ao capitalista

1:19:06.260,1:19:12.619
sem remuneração.

1:19:12.619,1:19:19.619
Agora, há aqui alguns elementos interessantes.

1:19:19.679,1:19:23.409
Sugeri que os capitalistas podem gostar

1:19:23.409,1:19:27.409
de citar a taxa de lucro.

1:19:27.409,1:19:32.139
Mas, de facto, quando eles vão ao banco
para tentar obter dinheiro emprestado,

1:19:32.139,1:19:40.179
para onde olha o banco?
Olha para a taxa de lucro.

1:19:40.179,1:19:47.309
Assim, na verdade, os capitalistas tendem a operar

1:19:47.309,1:19:54.309
com base, eles fazem os seus cálculos,
com base na taxa de lucro.

1:19:54.609,1:19:59.469
Eles poderão mesmo não ter
consciência da taxa de exploração.

1:19:59.469,1:20:06.239
Certamente não têm interesse em calculá-la.

1:20:06.239,1:20:11.030
E o problema com o processo de trabalho,
lembrem-se, é um processo que está a ser objectivado

1:20:11.030,1:20:15.989
em coisas, de modo que no fim do dia
têm um monte de coisas lá que têm

1:20:15.989,1:20:18.729
C mais V mais MV incorporado nelas,

1:20:18.729,1:20:24.079
pequenos elementos.

1:20:24.079,1:20:27.429
E é um processo contínuo.

1:20:27.429,1:20:31.090
Assim, isto torna-se realmente impossível,

1:20:31.090,1:20:36.880
temos de novo aqui o argumento do fetichismo,
certo, torna-se impossível

1:20:36.880,1:20:40.669
para o trabalhador saber até que ponto

1:20:40.669,1:20:53.159
acrescentaram tempo de trabalho socialmente
necessário equivalente ao seu salário.

1:20:53.159,1:20:57.959
E se existisse uma pequena campainha
que avisasse, depois de seis horas fizesse 'bang',

1:20:57.959,1:21:02.540
já está feito, a partir de agora
vocês vão trabalhar de borla para o capitalista.

1:21:02.540,1:21:10.119
Imaginem como seria o processo de trabalho.
Imagem como seriam as relações sociais.

1:21:10.119,1:21:13.550
Claro que não pode funcionar assim,
de qualquer maneira porque

1:21:13.550,1:21:19.179
estamos a olhar para um processo de trabalho contínuo.

1:21:19.179,1:21:25.469
E enquanto Marx nos está a dar este cálculo
em termos de dias, vocês podem também

1:21:25.469,1:21:30.289
aplicá-lo em termos de horas e minutos.

1:21:30.289,1:21:40.050
É um processo contínuo, fazendo coisas.

1:21:40.050,1:21:46.710
Portanto, esta taxa de mais-valia então

1:21:46.710,1:21:57.059
é o que anima o pensamento de Marx sobre

1:21:57.059,1:22:04.059
o modo como o trabalhador deve
pensar em relação à sua situação.

1:22:05.929,1:22:09.289
O que o leva então

1:22:09.289,1:22:12.379
às várias formas nas quais

1:22:12.379,1:22:15.270
essas representações podem ocorrer.

1:22:15.270,1:22:19.780
E então esta maravilhosa secção três

1:22:19.780,1:22:25.440
'A “última hora” de Senior', quando
"Numa bela manhã do ano de 1836,

1:22:25.440,1:22:31.040
Nassau W. Senior, afamado por sua ciência econômica
e seu belo estilo e, de certo modo,

1:22:31.040,1:22:35.619
o Clauren entre os economistas ingleses,
foi chamado de Oxford a Manchester,

1:22:35.619,1:22:42.619
a fim de aprender aí Economia Política,
em vez de ensiná-la em Oxford."

1:22:42.699,1:22:46.869
O que Senior argumentou foi o seguinte:

1:22:46.869,1:22:53.099
Senior argumentou que, na verdade,
o que o trabalhador tinha de fazer

1:22:53.099,1:22:58.069
durante as primeiras dez horas do dia,
era reproduzir totalmente o valor

1:22:58.069,1:23:02.920
dos meios de produção.

1:23:02.920,1:23:06.219
Noutros termos: Senior não tinha noção

1:23:06.219,1:23:09.429
da transferência de valor do trabalhador

1:23:09.429,1:23:13.149
no processo de produção.

1:23:13.149,1:23:18.729
Senior disse: Bem, se os meios de produção custam isto,
então o trabalhador tem de ser posto a trabalhar

1:23:18.729,1:23:25.280
e, realmente, tem de trabalhar tudo de novo
para refazer esses meios de produção.

1:23:25.280,1:23:29.409
Portanto, as primeiras dez horas são destinadas a isso.

1:23:29.409,1:23:34.130
A próxima hora é usada
para a reprodução do trabalhador,

1:23:34.130,1:23:38.309
e a última hora é o excedente.

1:23:38.309,1:23:42.510
Por conseguinte, vocês tinham
de trabalhar doze horas por dia.

1:23:42.510,1:23:47.880
E se vocês trabalham apenas 11 horas,
o excedente desapareceria,

1:23:47.880,1:23:51.280
não haveria excedente, pobres capitalistas.

1:23:51.280,1:23:55.299
Não excedente, nenhum lucro.

1:23:55.299,1:24:01.829
Portanto ele argumentou e os fabricantes
estavam a fazer este argumento em Manchester,

1:24:01.829,1:24:07.769
de que os seus lucros vinham da 12ª hora.

1:24:07.769,1:24:14.689
E que, portanto, sob nenhuma circunstâncias,
seria possível

1:24:14.689,1:24:19.590
permanecer no negócio e reduzir
a duração do dia de trabalho.

1:24:19.590,1:24:23.059
E a seguir Marx

1:24:23.059,1:24:27.949
disseca, avidamente desconstrói,

1:24:27.949,1:24:30.789
todas as tolices do argumento de Senior:

1:24:30.789,1:24:34.300
"E a isso chama o sr. Professor de “análise"?"

1:24:34.300,1:24:38.659
Apetecia-me entrar nas aulas de economia
burguesa e dizer isto

1:24:38.659,1:24:44.659
em várias ocasiões:
'Vocês chamam a isto análise?

1:24:46.790,1:24:53.699
Portanto, a última hora de Senior
foi apenas, ao longo destas linhas,

1:24:53.699,1:25:01.659
a desconstrução de Marx
de um argumento económico vulgar.

1:25:01.659,1:25:06.889
Mas reparem, novamente, o que ele está aqui a fazer

1:25:06.889,1:25:10.889
é também a expor os tipos de lógica

1:25:10.889,1:25:18.090
a que os capitalistas frequentemente recorrem.

1:25:18.090,1:25:21.039
Eu abstenho-me de consumir,

1:25:21.039,1:25:31.400
não mereço alguma remuneração por isso?
Eu proporciono emprego,

1:25:31.800,1:25:35.939
e faço tudo isso…

1:25:35.939,1:25:41.190
Eu trabalho para o que faço.

1:25:41.190,1:25:43.900
E a maneira como eu trabalho é…

1:25:43.900,1:25:49.579
Eu estou desesperadamente preocupado em obter lucro
e esse lucro vem da décima segunda hora.

1:25:49.579,1:25:54.139
Mas ao mesmo tempo verão:
há uma certa confirmação,

1:25:54.139,1:26:00.940
que vem do Senior, do argumento de Marx.

1:26:00.940,1:26:05.230
Que, de facto, é o comando
capitalista do tempo

1:26:05.230,1:26:13.349
e o tempo dos trabalhadores
que é absolutamente crucial.

1:26:13.349,1:26:17.889
Vocês não podem ter lucro a não ser que,

1:26:17.889,1:26:24.699
como um capitalista, comandem o tempo do trabalhador.

1:26:24.699,1:26:32.009
E que, por conseguinte, vai haver
uma luta de classes sobre

1:26:32.009,1:26:36.709
o tempo dos trabalhadores
e a forma como é usada esse tempo.

1:26:36.709,1:26:41.829
E lembrem-se aqui também
da forma em que a intensidade

1:26:41.829,1:26:46.899
está a ser introduzida, porque parte
deste comando sobre o tempo está

1:26:46.899,1:26:51.909
relacionada com o comando da intensidade do processo de trabalho.
E se puderem aumentar a intensidade

1:26:51.909,1:27:03.299
do processo de trabalho obterão
muito mais valor produzido.

1:27:03.299,1:27:10.290
Portanto em todas estas formas podemos
ver Marx a preparar o palco para dizer:

1:27:10.290,1:27:17.290
'Yeah, valor é tempo de trabalho socialmente necessário.

1:27:18.889,1:27:22.010
O lucro vem do trabalho excedentário

1:27:22.010,1:27:28.650
que é a mais-valia do trabalho,
o tempo de trabalho excedentário do trabalhador,

1:27:28.650,1:27:34.260
para além do tempo de trabalho necessário

1:27:34.260,1:27:42.059
que eles usam para reproduzir o seu próprio valor.'

1:27:42.059,1:27:49.769
Então, de repente, tudo isto
transforma-se em tempo e temporalidade.

1:27:49.769,1:27:58.429
E os capitalistas estão preocupados
com a temporalidade e o comando sobre a temporalidade.

1:27:58.429,1:28:04.369
Portanto, o capitalista não só
tem de comandar

1:28:04.369,1:28:09.739
o processo de trabalho, determinar
o que o trabalhador irá fazer,

1:28:09.739,1:28:13.649
não só o capitalista deve
comandar o produto,

1:28:13.649,1:28:19.049
eles vão também ter o comando
do tempo do trabalhador.

1:28:19.049,1:28:29.119
E isto torna-se crucial, porque sem o comando
do tempo não há mais-valia, não há lucro.

1:28:29.119,1:28:35.280
E de uma forma engraçada Senior
reconhece isso e faz este argumento piegas

1:28:35.280,1:28:46.229
mas, apesar de tudo, reconhece,
nesse argumento, o aspecto crucial

1:28:46.229,1:28:51.960
da temporalidade na forma
como funciona o capitalismo.

1:28:51.960,1:28:57.719
E novamente, um dos elementos
que está aqui envolvido,

1:28:57.719,1:29:12.339
nesta temporalidade, vai ser também transportado
para o momento metabólico da relação com a natureza.

1:29:12.339,1:29:18.449
Todos nós, penso eu, reconheceríamos:
um dos grandes problemas do capitalismo é a forma pela qual

1:29:18.449,1:29:23.290
as decisões são feitas a curto termo.

1:29:23.290,1:29:29.460
Decisões a longo termo são muito mais difíceis de fazer.

1:29:29.460,1:29:35.620
E quanto mais curta for a decisão,
melhor para o capitalista.

1:29:35.620,1:29:39.630
O que significa que, se vocês estão a explorar
um recurso natural de algum tipo, o que fazem?

1:29:39.630,1:29:46.559
Vocês exploram-no ao máximo
na base do curto prazo.

1:29:46.559,1:29:50.399
Assim, o curto prazo

1:29:50.399,1:29:55.290
vai também ser construído internamente. Assim, vocês
podem construir…, ao mesmo tempo em que vêem o que

1:29:55.290,1:30:01.099
o capitalista vai fazer com o trabalhador,
podem também começar a pensar sobre o que o capitalista

1:30:01.099,1:30:07.269
vai fazer em relação aos recursos naturais
e com essa relação metabólica com a natureza.

1:30:07.269,1:30:11.769
Como é que a relação metabólica
com a natureza vai evoluir?

1:30:11.769,1:30:17.030
Como irá parecer esta evolução?

1:30:17.030,1:30:22.130
E, novamente, o que começam a ver aqui
é Marx a olhar para

1:30:22.130,1:30:26.900
esta unidade, que começamos no
capítulo sobre processo de trabalho,

1:30:26.900,1:30:31.570
o momento metabólico onde
o social e o natural…

1:30:31.570,1:30:35.210
E vocês começam a olhar e a pensar
sobre o modo como

1:30:35.210,1:30:39.929
começa a evoluir sob as pressões

1:30:39.929,1:30:43.289
dessa temporalidade que

1:30:43.289,1:30:51.719
Marx citará mais tarde: esses momentos
são os elementos do lucro.

1:30:51.719,1:30:54.809
E se momentos são os elementos do lucro,

1:30:54.809,1:31:04.380
então o capitalista está muito preocupado
em capturar cada momento do processo de trabalho.

1:31:04.380,1:31:14.639
O que nos vai levar então
até aos próximos capítulos sobre o dia de trabalho.

1:31:14.639,1:31:20.319
Ok, abrangemos imenso, vamos então
dedicar algum tempo para a discussão geral.

1:31:20.319,1:31:25.319
»ESTUDANTE: Como é que Marx
contabiliza a deficiência

1:31:25.319,1:31:32.809
para ver essas coisas que
os outros economistas negaram ver?

1:31:32.809,1:31:39.360
»HARVEY: Não sei
como é que ele contabiliza isso.

1:31:39.360,1:31:42.210
Eu penso que… penso… duas coisas,

1:31:42.210,1:31:47.019
que provavelmente desempenham um papel maior.

1:31:47.019,1:31:52.780
Em primeiro lugar, a sua decisão consciente
de situar-se a si próprio

1:31:52.780,1:31:58.110
e olhar para este sistema
a partir da perspectiva do trabalhador

1:31:58.110,1:32:06.599
e da classe trabalhadora. Portanto, temos aqui
aquilo a que chamaríamos um 'decisão de conhecimento situado'

1:32:06.599,1:32:11.510
.. aqui… Portanto, eu penso que, em parte,
isto está a ser olhado a partir desta perspectiva.

1:32:11.510,1:32:17.379
A outra, penso eu, vem das,
daquilo que eu inicialmente falei,

1:32:17.379,1:32:22.669
que é uma forma na qual ele usa por exemplo

1:32:22.669,1:32:26.120
noções da utopia socialista francesa,

1:32:26.120,1:32:28.570
principalmente utopia socialista francesa,

1:32:28.570,1:32:34.159
filosofia crítica alemã e economia política inglesa,
para tentar descobrir

1:32:34.159,1:32:38.709
quais são os buracos na economia política inglesa.
E por vezes é muito fácil descobrir esses buracos,

1:32:38.709,1:32:40.969
como ele faz com Senior.

1:32:40.969,1:32:46.230
Outras vezes não é assim tão fácil.
Não é fácil fazê-lo com Ricardo.

1:32:46.230,1:32:53.099
Ele é um grande admirador de Ricardo,
mas vê claramente que Ricardo tem ainda

1:32:53.099,1:32:58.199
esses problemas sobre a teoria de valor

1:32:58.199,1:33:01.619
sem perceber o que realmente significa
socialmente necessário.

1:33:01.619,1:33:06.629
E, mais um vez, o que vemos aqui é algo
que é muito importante, isto é:

1:33:06.629,1:33:11.000
Quando o capitalista estabelece que a unidade

1:33:11.000,1:33:15.449
entre o processo de trabalho e a produção
de mais-valia como sendo a essência disto

1:33:15.449,1:33:17.549
eles estão prestes,

1:33:17.549,1:33:21.909
e tem de ser o núcleo disto
porque é a única forma de garantir

1:33:21.909,1:33:24.199
a eles próprios isso.

1:33:24.199,1:33:28.059
Quanto eles se estabelecem desta forma,

1:33:28.059,1:33:32.489
começam a tomar decisões com base nisso,

1:33:32.489,1:33:39.129
e todo o sistema começa a mover-se
em direcção a um tipo diferente de

1:33:39.129,1:33:42.469
estrutura operacional como resultado deste

1:33:42.469,1:33:47.800
movimento consciente da parte do capitalista,
nós vamos atrás da mais-valia, que é o que queremos.

1:33:47.800,1:33:50.479
Portanto, eu penso que isto vem, em parte,

1:33:50.479,1:33:54.270
tal como disse, da sua escolha da contextualização,

1:33:54.270,1:34:01.289
do anti-capitalismo, da situação do trabalhador
e então, se quiserem, da crítica geral

1:34:01.289,1:34:04.260
de análise que ele está a tentar estabelecer,
e… e….

1:34:04.260,1:34:09.340
penso eu, de uma necessidade científica urgente
de tentar compreender

1:34:09.340,1:34:12.429
o capitalismo com uma totalidade de trabalho.

1:34:12.429,1:34:15.690
Ele nunca foge disso.

1:34:15.690,1:34:19.350
Nesta altura não é suposto falar sobre totalidades,
aparentemente é reaccionário,

1:34:19.350,1:34:24.989
mas ele adopta essa perspectiva: vocês têm
de compreender o modo de produção capitalista como uma totalidade.

1:34:24.989,1:34:27.829
E vocês tem de compreendê-lo como um sistema orgânico

1:34:27.829,1:34:31.099
e perceber que os elementos vêm juntos.

1:34:31.099,1:34:36.310
Portanto, ele também tem a missão científica
de perceber isto como uma totalidade orgânica.

1:34:36.310,1:34:38.889
Não há aula na próxima semana.

1:34:38.889,1:34:41.349
É o 'dia do Colombo', certo?

1:34:41.349,1:34:43.190
Certo?

1:34:43.190,1:34:46.389
O que fez Colombo? (risos)

1:34:46.389,1:34:51.159
Ele é um dos piores geógrafos
que já existiu.

1:34:51.159,1:34:54.789
Ele desembarcou num lugar
que ele não sabia onde era.

1:34:54.789,1:34:59.339
Ele entrou num ambiente que desconhecia
de todo, numa população

1:34:59.339,1:35:02.609
com a qual não fazia a menor ideia como lidar.

1:35:02.609,1:35:06.849
Ele foi um dos piores geógrafos de todos os tempos

1:35:06.849,1:35:09.109
e vá-se lá saber porque tornou-se um grande exemplo

1:35:09.109,1:35:11.989
de um grande geógrafo, é incrível.

1:35:11.989,1:35:13.609
Adiante, não há aula na próxima semana.

1:35:13.609,1:35:20.780
Na semana a seguir vamos ler o capítulo
sobre 'A jornada de trabalho', que é um longo capítulo empírico.

1:35:22.619,1:35:26.119
… e então… o capítulo que se segue,

1:35:26.119,1:35:31.169
portanto, capítulos dez e onze

1:35:31.169,1:35:35.699
que são sobre 'Taxa e Massa da Mais-Valia'
Portanto, capítulos dez e onze.

1:35:35.699,1:35:40.130
E voltamo-nos a ver daqui a duas semanas,
assim temos bastante tempo

1:35:40.130,1:35:46.570
para ruminar sobre o dia de trabalho,
com a ajuda do Colombo e de outros.

Unless otherwise stated, the content of this page is licensed under Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 License